Agosto 1964 || Ferreira Gullar



Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases, concretismo,
 neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu compro à vista aos donos do mundo.
 Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.
Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do horror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira

Kommentare

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/01/2023

      Já é agosto!
      Que tal colocar um sorriso no rosto?

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  2. Rogério V. Pereira8/01/2023

    Também eu, tal com o poeta, disse há muito, adeus à ilusão
    mas não ao mundo. Mas não à vida,

    (esse avião de papel remete-me para um conto de aviso, a páginas tantas do meu último livro... leste?)

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    1. O AVIÃO DE PAPEL

      — “É um avião. Um avião de papel, mas é um avião especial. Podes lançá-lo e viajar/ir com ele. Nem precisas pilotá-lo pois ele saberá levar-te à casinha da montanha mais alta. Podes ir conhecer aquele velho, personagem do conto “O Senhor Inverno”, e ele que te conte de viva voz, como é o inverno do seu encanto, porque é que a neve é da cor da sua barba, porque vive só, porque é tão azul o céu, e outras coisas que só os velhos, muito velhos sabem explicar.”

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  3. Um poema de um poeta consciente.

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/01/2023

      Ferreira Gullar (1930 — 2016) denunciou a desigualdade social, criticou o facto de que muitas poesias não tinham espaço para a política e opôs-se fortemente, com a sua literatura, à ditadura militar. Militante do Partido Comunista Brasileiro, forte opositor da ditadura e vencedor do Prémio Camões.

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  4. Gosto do sacoleja que nós não usamos.

    Abraço

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    1. Não compreendo a tua crítica, Leo‼️

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    2. Teresa, no Alentejo usamos muito o verbo "sacolejar", que significa agitar, sacudir, abanar. Creio que os brasileiros também. Se uma estrada está cheia de buracos, um autocarro abana todo, e 'sacoleja' a barriga dos passageiros, por exemplo!
      "Não sacolejes muito a bilha da água que a entornas"... :))
      É dessa palavra que a Leo gosta e não é usual usar-se. Não foi critica alguma.
      Abraço a ambas! :)

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    3. Recorri imediatamente ao Google para saber o significado de “sacoleja“ — todavia não encontrei qualquer ligação com o poema de Ferreira Gullar.

      Ri às gargalhadas com o António Costa pronto para as Jornadas da Juventude …!

      Abraço forte para as minhas amigas da primeira hora 🌻

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    4. A ligação está nesta parte do poema:
      "O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
      relógio de lilases, concretismo...etc, etc..."

      Ônibus é autocarro ou camioneta em português de Portugal, Teresa, assim como o 'trem' dos nossos irmãos de além-mar é o nosso comboio.

      O nosso PM, colocou uma mochila às costas, foi logo motivo para as piadas começarem a disparar.
      Ainda não percebi o que se passa com a tua conta Google. Bloqueou, foi?

      Um abraço também.

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    5. Teresa Palmira Hoffbauer8/02/2023

      Culpa minha‼️
      Os meus olhos perderam-se no „Adeus, Rimbaud“ e nem deram atenção ao autocarro que „sacolejava“. A tradução em português de „ônibus“ e „trem“ já conhecia, mas „sacolejar“ nunca tinha ouvido e, não me soa bem.

      Não me é permito comentar em blogues: Para deixar um comentário, clique no botão abaixo para iniciar sessão com o Google.

      Abraço-te, agradecendo a explicação e digo boa noite 🌙

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  5. Um poema bem lúcido.

    Amiga, grande abraço e feliz Agosto

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/01/2023

      Ferreira Gullar representa a chamada poesia social, de certo modo até actual.

      Abraço-te, desejando-te um agosto com alegria e satisfação 🌻

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