Paul Klee & Jorge de Sena



Paul Klee permaneceu na Academia de Dusseldorf até 1933, quando Adolf Hitler chegou ao poder; a partir de então, não era mais possível trabalhar na Alemanha. Como artista moderno, Klee foi demitido da sua posição, e a sua casa e estúdio foram revistados pela Gestapo por causa das suas conhecidas simpatias de esquerda. Apesar dessas dificuldades, Klee continuou a produzir a sua arte sem restrições. Os desenhos que ele fez neste momento são principalmente representacionais e até narrativos; muitos refletem diretamente os distúrbios políticos da época, lidando de forma irónica com demagogia, militarismo, violência política e emigração.

Jorge de Sena, um dos grandes poetas da língua portuguesa, sempre lutou pela liberdade. Ter passado pela Armada em plena Guerra Civil Espanhola, e durante a fascização do Estado Novo, foi para ele uma experiência traumática da sua adolescência, que transporia para diversos poemas e ficções, como A Grã Canária e Sinais de Fogo. Em 1959, receando as perseguições políticas resultantes de uma falhada tentativa de golpe de estado, a 11 de março desse ano, em que está envolvido, exila-se no Brasil. Aí, dedica-se ao ensino da literatura, dedicando-se livremente à escrita. Os seus anos no Brasil foram os primeiros que viveu, como adulto, em liberdade, e constituem porventura o seu período mais criativo. O golpe militar de 1964, nesse país, faz o escritor temer um regresso ao passado, pelo que, em 1965, aproveita a oportunidade de se mudar para os EUA, com a esposa e os 9 filhos de ambos.  A obra de Jorge de Sena é vasta e multifacetada, com mais de vinte coletâneas de poesia, uma tragédia em verso, uma dezena de peças, mais de 30 contos, uma novela e um romance, e cerca de quarenta volumes dedicados à crítica e ao ensaio, à história e à teoria literária e cultural, ao teatro, ao cinema e às artes plásticas.  Nestes dois poemas do novo livro Fidelidade, escritos em Portugal em 1953 «Epitáfio» e em 1956 «Quem a tem», Jorge de Sena expressa o seu desejo de uma vida plena e livre.

Kommentare

  1. Uma interessante publicação que... poderiam ser duas.
    Klee uma grande referência de muitos artistas durante décadas.
    Jorge de Sena um dos nossos maiores que não morreu sem saber a cor da liberdade.

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer1/23/2024

      Um dos nossos maiores intelectuais morre em 1978 em Santa Bárbara.
      Em 1974 é mal recebido em Portugal. Uma afronta que ele nunca perdou.

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  2. E hoje em dia vemos tantos exemplos de gente que despreza essa liberdade conquistada...
    É triste.

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer1/23/2024

      „Não há liberdade sem compreensão mútua.“
      É pena que os políticos não sigam à risca o pensamento de Albert Camus

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  3. Esta é, na minha opinião, a mais perfeita e imaginativa de todas as colagens que já nos apresentaste! A Criatividade no seu melhor!
    Dois génios em duas formas de Arte distintas.
    Parabenizo-te, amiga de Düsseldorf. :)
    Abraço.

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    1. Colagem de admiração por dois génios em duas formas de Arte distintas, que dão sentido especial à minha vida cultural.
      Olha que até corei com tremendo elogio.

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  4. A Liberdade acima de tudo e expressão de arte!

    Abraço

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer1/23/2024

      Até onde vai a liberdade artística?
      Discutir novas perspectivas sobre a arte está em curso.

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