Os Dias de Veneza



Dia 13, segunda‐feira

O dia amanhece de sol. Enquanto tomamos o pequeno‐almoço, servido na varanda sobre o Canal Grande, decidimos ir ao Rialto e depois ao Lido.

Primeiro damos uma volta por San Polo. No Campo dei Frari, a igreja gótica de Santa Maria Gloriosa distingue‐se imediatamente pela altura do campanário. Canova jaz aqui. E Ticiano tem um monumento erigido em sua glória. A nave central não encontra paralelo com o já visto. É bem verdade que a pedra é um prodígio inapagável. As filas de cadeiras do Coro, mais de cem assentos com entalhes pre‐ ciosos, suscitam exclamações de apreço. Mas não chegamos a ver o São João Baptista de Donatello.

Na praça há vários cafés. O Jorge escolhe um de bairro para tomar, em pé (o código genético português tem muita força), uma bica «não turística». Uma bica «turística», sentada, custa entre sete e nove euros. Num café de bairro custa um euro e vinte cêntimos. Depois vai comprar um par de sapatos. Eu compro na Mondadori o paperback das memórias de Casanova, The Story of My Life.


nota biográfica
Eduardo Pitta nasceu em 1949. É poeta, escritor, ensaísta e crítico. Poemas seus estão traduzidos em inglês, francês, castelhano e italiano. Tem poemas, contos e ensaios pu‐ blicados em revistas de Portugal, Brasil, Espanha, França, Itália, Colômbia, Inglaterra e Estados Unidos. Entre 1974 e 2011 publicou dez livros de poesia, cinco volumes de ensaio e crítica, uma trilogia de contos, um romance e um diário. Os títulos mais recentes são Aula de Poesia (2010) e Desobediência (2011). Participou em congressos, seminários e festi‐ vais de poesia em Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia e Colômbia. É autor do blogue Da Literatura, colunista da 
revista LER e crítico literário da revista Sábado

Tudo sobre o autor em www.eduardopitta.com.

Kommentare

  1. Um livro que despertou o meu interesse.
    Uma homenagem a que me associo.

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    1. O meu interesse pelos Cadernos Italianos tem a ver com a minha próxima viagem à Itália. Os textos sobre o Outono Romano e o Verão Romano são incríveis.

      „Roma é uma capital «imunda», com um trânsito infernal, apenas adoçada pelas beldades de Trastevere. E, num ajuste de contas «hilariante», Pitta alimenta os pardais de Villa Borghese a batatas fritas“

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  2. Agora, de acordo com a Unesco, os dias que restam a Veneza.

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/03/2023

      Unesco lamenta a decadência de Veneza.
      Thomas Mann escreveu „A morte em Veneza“
      A realidade escreve A MORTE de VENEZA ☠️

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  3. Dizem que Veneza já não é o que era mas afinal tudo muda!

    Abraço

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/03/2023

      Veneza desmoronando: Ninguém sabe se a cidade ameaçada ainda pode ser salva.

      „Foi Roma, e não Veneza, que Eduardo Pitta visitou na qualidade de poeta (convidado de um festival) e de noivo em viagem de núpcias.“

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  4. Veneza ... quem te viu e quem te vê.
    Um abraço para ti, viajante no tempo.

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/03/2023

      Há uma deterioração perene devido à intervenção humana, que ameaça mudanças irreversíveis. Os problemas são conhecidos na cidade italiana há anos.

      „Vista do ar, Veneza, a sereníssima, está cercada por um anel de petroquímicas. Chegamos ao aeroporto Marco Polo ainda não é meio‐dia. Mas vai ser preciso esperar cinquenta minutos pela bagagem. Do terminal aéreo para o porto somos obrigados a fazer, a pé e a céu aberto, qualquer coisa como um quilómetro.“

      A viajante no tempo agradece e retribui o teu abraço „sereníssimo”.

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  5. Gostei do texto. Não segui de perto o percurso de Eduardo Pitta.
    A fotografia de cabeçalho é muito semelhante a uma que tirei quando passei umas semanas em Veneza.
    E é verdade, os preços nos cafés variam conforme a nossa posição. Se estiver em posição de sedestação, pago um preço, e na posição ortostática pago outro... mais baixo, mas não a preferida neste caso. : ))


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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/03/2023

      Leitora assídua Da Literatura o blogue de Eduardo Pitta.
      Cadernos Italianos é o início da minha vontade de conhecer a sua obra literária.

      “Depois, há a questão do dinheiro, insistente, omnipresente, com referências a preços, coisas que custam os olhos da cara, jantares com vários dígitos, e assim por diante. É um tique elitista mas antiaristocrático, uma «distinção», uma provocação, um jogo com o status. O esplendor italiano nasceu da convergência entre o dinheiro e o gosto. E essa mitologia agrada a Eduardo Pitta. Para neo‐realismos, bem basta o que basta.”

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  6. Rogério V. Pereira8/04/2023

    Não tenho tempo para ler
    Passo os dias a escrever
    (acabo de, agora mesmo, fazer um curto intervalo )

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/04/2023

      “O Harry’s Bar pertence à cadeia Cipriani, detalhe que explica a inflação de preços. A verdade é que a comida é soberba, as doses homéricas, o vinho da casa excelente (os outros têm todos três dígitos), as sobremesas obscenas de prodigiosas. Nenhuma concessão à nouvelle cuisine. Seja como for, nada que um casal não resolva com trezentos euros e boa disposição.“

      Lê “Os Dias de Veneza” no intervalo e esquece o teu mundo de trabalho.

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  7. Veneza está decaindo a olhos vistos.

    Espero que as medidas tomadas ainda consigam resultados positivos.

    Conheço Pitta, mas nunca o li. Que esteja em paz !

    Te abraço, minha amiga de tão longe.

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/04/2023

      Toda a cidade é uma obra-prima arquitetônica extraordinária na qual até mesmo o menor edifício contém obras de alguns dos maiores artistas do mundo, como Giorgione, Ticiano, Tintoretto, Veronese e outros. Tenho que visitar VENEZA — mesmo moribunda.

      Abraço-te, São, neste sexta-feira solarenga ☀️

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  8. Acredito que seja um livro fascinante de ler
    Adorava um dia conhecer Veneza. Tenho mesmo esse sonho, o qual, se calhar nunca se vai concretizar.

    Feliz fim de semana

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer8/04/2023

      „O empregado que nos serve é um clone do Vasco Santana, enfim, mais alto, fala seis línguas, nenhuma delas português, não hesita em propor novos contorni (como acompanhamento do scampi gratinado pedi para trocar a polenta por arroz pilaf com açafrão). O ambiente é glamo‐ roso, distendido, bem‐humorado, sente‐se que estamos envoltos numa aura de privilégio. Nas paredes lisas há fotos de edifícios emblemáticos de Nova Iorque. Mas as torres gémeas do WTC estão ausentes. Ninguém fuma, apesar dos cinzeiros de cerâmica cor‐de‐rosa. O distinto signore Arrigo Cipriani, doublé de Mr Harry, vem saber se estamos satisfeitos. Um gesto natural, sem resquício de mesura pavloviana.“

      Enquanto, não realizas o teu sonho de visitar Veneza, Ricardo, lê „Os Dias de Veneza“

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