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CARLOS de OLIVEIRA 1921 — 2021


 


“Pelas cinco horas duma tarde invernosa de outubro, certo viajante entrou em Corgos, a pé, depois da árdua jornada que o trouxera da aldeia do Montouro, por maus caminhos, ao pavimento calcetado e seguro da vila; um homem gordo, baixo, de passo molengão; samarra com gola de raposa; chapéu escuro, de aba larga, ao velho uso; a camisa apertada, sem gravata, não desfazia no esmero geral visível em tudo, das mãos limpas à barba bem escanhoada; é verdade que as botas vinham de todo enlameadas, mas via-se que não era hábito do viajante andar por barrocais; preocupava-o a terriça, batia os pés com impaciência no empedrado. Tinha o seu quê de invulgar, o peso do tronco roliço arqueava-lhe as pernas e fazia-o bambolear a cada passo. Via-se também que não era grande caminhante, a respiração alterosa dificultava-lhe a marcha, mas galgara com coragem duas léguas de barrancos, lama e invernia. Grave assunto trouxera decerto, penando nos atalhos gandareses, por aquele tempo desabrido.“ (“Uma Abelha na Chuva“ )

Kommentare

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    1. „Como todos os neorrealistas, Carlos de Oliveira não queria apenas escrever o mundo; queria mudá-lo. A pobreza dos camponeses, a mortalidade infantil e a imigração, "tatuaram" a sua consciência social. "Uma abelha na chuva" é o retrato de um país oprimido.“

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  2. A reportagem é grande mas já vi uns excertos e fiquei admirada por conhecer bastantes trabalhos seus sem saber qual o seu autor.
    Eu sou péssima para nomes... e quando li Carlos Oliveira, apenas me consegui lembrar do nosso amigo CBO.
    Volto depois para ver o que me falta e conhecer melhor o homem e o escritor.

    Beijinhos enviados em caravelas
    (^^)

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    1. „Uma Abelha na Chuva“ publicado em 1953, é uma das mais conhecidas obras de Carlos de Oliveira, tanto em Portugal como no estrangeiro. Um dos romances que li mais emblemáticos.

      Boa noite, Clara 🐝

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    2. Exato, essa é umas das referências que conheço! Mas se me perguntassem o nome do seu autor... eu iria "embatucar" sem saber a resposta! Ok, agora já sei! 😉

      Boa noite Amiga
      (^^)

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    3. Já leste o livro?! Já viste o filme?!

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    4. Já vi o filme, mas há tanto tanto tempo que a única coisa de que me lembro é que a protagonista era a Laura Soveral, a actriz portuguesa favorita da minha mãe.

      (^^)

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    5. Eu li o livro, mas há já muito tempo. O filme nunca vi.

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  3. Não sou invejoso, fico com inveja de (esta) não ter sido uma iniciativa minha!

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    1. Quase que esquecia de celebrar o centenário de nascimento do escritor português.

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    2. Não é apenas teu o esquecimento... o silêncio sobre Carlos de Oliveira (das próprias Universidades) é simplesmente criminoso."

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    3. NÃO compreendo o silencioso centenário de Carlos de Oliveira, o romancista e poeta que soube pertencer „à geologia milenar do cosmos, ao céu e à terra, ao povo e à solidão de cada homem“. E o mundo que ele desprezava continua a ignorá-lo?!

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  4. A Clara lembrou-se do mesmo que eu.

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  5. Nunca vi o filme nem li o livro. Sou mesmo um desnaturado. Começo a não me perdoar. Mas pronto. Leio muito, mas mesmo muito, embora sejam livros totalmente diferentes. Livros que versam sobre outras áreas, mas que, são tão ou mais importantes que os livros de romances, de amor, tragédia, terror, ou filmes congéneres.

    Não há machado que corte
    A raiz ao pensamento

    --- está tudo dito ---

    Deixo um abraço sentido, apertado (que sei que gostas)

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    1. „Não há machado que corte
      A raiz ao pensamento“

      É uma verdade imbatível.

      Desde criança que detesto beijos, abraços, apertos de mão.
      A pandemia 😷 sensibilizou-me.
      Desde sábado que abraço o mundo inteiro.

      TUDO que publico AQUI não é uma partilha nem uma sugestão, é simplesmente aquilo que faz parte do meu quotidiano.

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