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Sexta-Feira Santa



A conversa era sobre Deus,
embora o teólogo estivesse inclinado
a pensar que fosse sobre outra coisa,
pois era hora de jantar.
Pegou num cigarro e perguntou às senhoras se podia fumar.
Tinha devorado o pargo com honesto apetite
e elogiava as virtudes do cozinheiro.
Só Deus, Algures, chorava sobre
os despojos da sua pequena criatura na travessa
a caminho da copa, antes da sobremesa.
 
Manuel António Pina
«Sexta-feira santa», in Atropelamento e Fuga (2001)

Kommentare

  1. Gostei muito do poema com um criativo toque de humor. Desassombrado poeta sem medo de ir parar ao inferno.

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    1. Manuel António Pina sabia que é no inferno que se encontram as pessoas mais interessantes.

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  2. Manuel António Pina é assim, consegue brincar com coisas sérias...ou não!

    Abraço

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    1. Vejo um teólogo gordo, gozando os prazes da vida: comer, beber, fumar — sem compreender porque é que Jesus morreu na cruz para nos salvar.

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  3. Teresa, hoje não leio o Manuel António Pina, mas voltarei para o ler.
    Hoje venho apenas desejar-te uma Feliz e Santa Páscoa.
    Beijo (adoentado), muita saúde.

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    1. Manuel António Pina no seu estilo de escrita absolutamente delicioso, mesmo num texto tão curto e simples.

      Feliz Páscoa para ti e toda a tua família, desejando as tuas melhoras.

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  4. Adorei a publicação! Obrigada :)
    -
    É preciso união... a esperança não acabou
    -
    Um excelente fim de semana de Páscoa, para todos, com; Saúde, Paz, Compreensão e muita Prudência, extensivo a todos os vossos familiares e amigos. Beijos.

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    1. „A União faz a Força“ e „A esperança é a última que morre“ são frases banais com um grãozinho de verdade.

      NÃO tenho falta de saúde, paz, compreensão e prudência. Só me falta uma fatia de pão-de-ló.

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