Um Estio na Alemanha



Foram muitos os médicos que também se afirmaram enquanto escritores fundamentais no panorama literário português. Um Estio na Alemanha, obra de Abel Salazar, consagrado médico, investigador e professor catedrático da Universidade do Porto (U.Porto), falecido em Lisboa, a 29 de dezembro de 1946, acaba de ser reeditada pela U.Porto Press e pela Casa-Museu Abel Salazar.
Anteriormente publicada pela Editorial Nobel, de Coimbra, em 1944, e faseadamente pelo semanário republicano de Viseu O Trabalho, em números publicados entre 1936 e 1939, a obra passa agora a integrar o catálogo da Editora da U.Porto, na coleção Pensamento, Arte e Ciência, dedicada à edição e reedição de obras do autor.

“Um Estio na Alemanha” é a história de uma viagem contada na primeira pessoa.
O seu ponto de partida é Berlim. “…E eis que ela aí está, precisa e real, a alama da luz nórdica, da paisagem ao longe tanta vez sonhada; tem a frescura virginal, sem mácula, de uma manhã de aleluia”, descreve Abel Salazar no capítulo inaugural da obra. 
“No calor da manhã rosada, o Cap Blanco acosta lentamente ao cais de Cuxhaven. O Sol brilha, lampejando em dois capacetes prussianos, e a cidade, perdida na bruma matinal, não é ao longe mais do que um indeciso fantasma”.
Assim anuncia Abel Salazar a sua chegada ao cais de Cuxhaven, situado numa cidade portuária do norte da Alemanha, em 18 de setembro de 1913, a bordo do navio a vapor “Cap Blanco”.
E assim começa o primeiro capítulo desta obra — “Eis, Pois, Berlim e a Imperial Alemanha” —, as mesmas palavras com que Abel Salazar o remata e aguça o interesse do leitor para os seguintes.
Após Cuxhaven, Abel Salazar ruma a Hamburgo e, de seguida, a Berlim. Visita também outras cidades, como Postdam e Dresden. À medida que vai passando, vai registando, em desenhos, o quotidiano dos locais em contextos diversos, à semelhança dos registos já efetuados a bordo do “Cap Blanco” ou do expresso para Hamburgo-Berlim. No segundo capítulo, após as “primeiras impressões”, aborda tópicos como a “boémia berlinesa”, o “exotismo nórdico” ou “a apoteose imperial”. 

Ainda que se debruce longamente sobre a capital alemã, o autor segue viagem, passando por cidades como Amesterdão, Bruxelas e até Madrid, onde se debruça sobre temas tão distintos como a crise ou El Greco.

Kommentare

  1. Muito mais conhecido na sua faceta de médico brilhante do que na de escritor.

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer5/07/2024

      Ler “Um Estio na Alemanha” é chegar um pouco mais perto do homem que celebrizou a frase “um médico que só sabe Medicina, nem de Medicina sabe”.

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  2. Não o conhecia como escritor!

    Abraço

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer5/07/2024

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  3. O Dr. Abel Salazar, além de médico foi um artista polifacetado, dedicando-se à pintura, ao desenho, aguarela, gravura e escultura, pelo que essa faceta de escritor não me surpreende.
    Surpreendida fiquei, pelo postal escrito por essa eminente figura, estar na tua posse... 🤔 😊
    Abraço! 🌷

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer5/07/2024

      A reprodução de um postal enviado por Abel Salazar à sua irmã está na página 196 do livro. Fotografia: U.Porto Press. Para além dos escritos, a U.Porto Press acrescentou à publicação diversos desenhos, postais enviados por Abel Salazar à mãe e à irmã e outros documentos relativos a estas viagens. Esta publicação está disponível na loja online da U.Porto Press. Clica lá em cima na coleção Pensamento, Arte e Ciência, para mais informações.

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  4. Investigador, também!
    Um abraço

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    1. Teresa Palmira Hoffbauer5/07/2024

      O seu trabalho de investigação depressa foi reconhecido e divulgado, atingindo fama mundial, devido a inúmeras publicações de artigos em revistas científicas, portuguesas e estrangeiras.

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    2. Só o conhecia como médico e um grande investigador!
      Beijos e uma boa tarde

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    3. Teresa Palmira Hoffbauer5/07/2024

      Figura eminente da Universidade do Porto e vulto maior da cultura portuguesa contemporânea, Abel Salazar formou-se com distinção na Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), deixando a esta faculdade um legado inestimável, como professor e investigador do Instituto de Histologia e Embriologia, do qual foi fundador.

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