violência e paixão

 Há 250 anos, Johann Joachim Winckelmann morreu misteriosamente num quarto de hotel em Trieste.
Ainda hoje, a vida e a morte do douto arqueólogo suscitam especulações.
 Havia talvez despachos secretos da corte dos Habsburgos na sua bagagem? Ou o acto tinha algo a ver com a sua homossexualidade, que era bem conhecida? Portanto, não é surpreendente que o misterioso caso de assassinato também tenha servido como modelo literário em várias ocasiões  —  incluindo em Death in Trieste (1968), de Heinrich Alexander Stoll, Murder Case W. (1978), de Joachim Lindner, ou mais recentemente, Death in Trieste, de Dominique Fernandez. Trieste (2017).
Tanto o assassinato de Pier Paolo Pasolini quanto de Gianni Versace foram comparados com a morte de Winckelmann, sem que as circunstâncias exactas sejam esclarecidas. De onde vem a necessidade de vincular assassinatos de homossexuais, como se fosse necessariamente a sexualidade deles que levasse à morte? Como costuma acontecer, lidar com esses casos diz mais sobre a sociedade do que sobre os crimes em si.
Ao olhamos para a história através das lentes da nossa percepção contemporânea, ofuscamoa a nossa visão.
Quando se trata de homossexualidade em particular, muitas vezes intuitivamente tiramos conclusões precipitadas.
A Itália do século XVIII era um lugar mais confortável para os homossexuais do que se poderia pensar hoje.
Summa summarum: não há evidências para nenhuma dessas especulações. Mas elas provavelmente se mantêm por causa do fascínio que surge da contradição entre o ideal clássico e a morte sangrenta. Seja como for, o mundo intelectual ficou chocado na época. Um jovem estudante chamado Johann Wolfgang von Goethe escreve no seu diário: "A sua morte prematura chamou a atenção para o valor da sua vida".