Immanuel Kant: Considerações acerca do sentimento do belo e do sublime, 1764



“Aquele cujo sentimento pende para o melancólico não é assim chamado porque, privado da alegria de viver, se atormente numa sombria tristeza, mas porque os seus sentimentos, quando são intensificados até um certo grau tendem para esse estado mais facilmente do que para outro. Ele possui acima de tudo um sentimento do sublime. A própria beleza, da qual possui também o sentimento, tem não apenas de atraí-lo mas ao mesmo tempo de comovê-lo, na medida em que lhe provoca admiração. O saborear do prazer é nele mais sério, mas não por isso menos intenso. Ele é constante, e por isso ordena os seus sentimentos segundo princípios. Comparado com aquele que só ocasionalmente se revela bondoso ou movido pelo amor, ele é um homem de princípios. Como quando a secreta voz do seu coração lhe diz: “tenho de ajudar aquele homem, que está a sofrer; não porque ele seja meu amigo ou meu conhecido, ou porque veja que ele poderá retribuir-me o benefício que lhe faço; não há tempo para aduzir razões e deter-me em questões: ele é um homem, e o que acontece a um homem também me diz respeito”. Nesse caso, o seu comportamento tem por base o mais elevado fundamento da benevolência na natureza humana e é sumamente sublime, quer pela sua inalterabilidade, quer pela universalidade da sua aplicação. Para ele, a veracidade é sublime e por isso odeia mentiras ou fingimento. Possui um elevado sentimento da dignidade da natureza humana. Estima-se a si mesmo e considera o homem como uma criatura que merece respeito. Não tolera nenhuma submissão abjecta e respira liberdade no seu nobre peito. Abomina todas as cadeias, quer sejam os colares de ouro que se usam nos palácios ou as pesadas grilhetas de ferro dos escravos das galeras.”    porque os seus sentimentos, quando são intensificados até um certo grau tendem para esse estado mais facilmente do que para outro. Ele possui acima de tudo um sentimento do sublime. A própria beleza, da qual possui também o sentimento, tem não apenas de atraí-lo mas ao mesmo tempo de comovê-lo, na medida em que lhe provoca admiração. O saborear do prazer é nele mais sério, mas não por isso menos intenso.”
 

Kommentare

  1. Um texto precioso. Uma imagem assustadora.

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    1. É uma estratégia de me agarrar aos filósofos, quando sinto o chão fugir-me sob os pés.
      O conflito actual é tão assustador como a pintura do William Turner.

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  2. O conflito actual é MUITO mais assustador, Teresa.
    Troglodita assassino sem perdão!

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    1. A ameaça de uma Terceira Guerra Mundial é real e as nossas cinzas ficam debaixo da terra 💀

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  3. Kant, o Iluminista... e Turner que tinha uma grande fascinação pelo mar revolto, agitado, assustador.
    Há quem já fale numa terceira guerra mundial....
    Uma sessão de meditação é o que necessito neste momento e é precisamente isso que vou fazer. : )
    Tenho que deixar de ouvir ou ler notícias à noite...

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    1. Quero acreditar no bom-senso do governo alemão 🕊 apoio militar directo na Ucrânia seria a Terceira Guerra Mundial 💀💀💀

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  4. Existem milhentas estórias sobre o Mar revolto. Confesso quem embore ame o mar, é uma situação (mar revolto) que me assusta.
    Gostei de ler o texto mas ... agora o que me assusta e revolta é o sofrimento do Povo Ucraniano às mãos de um assassino chamado Putin

    Fica bem

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    1. “Essa treta do filho da puta bom, o meu, e o filho da puta mau, o outro, só serve para arregimentar alguns néscios.” uma verdade indiscutível, Ricardo!!

      Não, não estou mesmo nada bem 🧨

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  5. Tudo isso é o humano melancólico... e também eu que de melancólica pouco ou nada tenho.

    Belíssimo naufrágio, o de Turner!

    Abraço, Teresa!

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    1. Não, eu não estou melancólica.
      Estou absolutamente paranóica.

      A pintura de Joseph Mallord William Turner obriga-me a recordar o tempo perdido na galeria nacional em Londres. Será que ainda terei a oportunidade de voltar lá?!

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  6. A tempestade no mar com o barco à deriva é a imagem assustadora da Europa/Mundo perante a hipótese de um naufrágio.
    Este texto de Kant faz-nos pensar que nem tudo está perdido.

    Abraço

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    1. Quero acreditar que nem tudo está perdido, Leo 🕊
      Eu, egoista e egocêntrica, temo o naufrágio da Alemanha.

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