O Cavalinho de Pau do Menino Jesus


Quando soube que o Menino Jesus tinha nascido, o Pai Natal ficou contentíssimo.
Vestiu-se a correr, carregou o trenó com presentes e chamou as renas:
„Dasher, Dancer, Dunder … Venham depressa!“
Quando a Mãe Natal, que fora fazer compras, chegou a casa, o Pai Natal já tinha atrelado 
as renas e estava pronto para partir.
„Onde vais?“, perguntou, surpreendida, a Mãe Natal. „Ainda nem almoçaste…“
„Vou a Belém. Nasceu o Menino Jesus, é Natal!“
A Mãe Natal aproximou-se do trenó carregado até cima de presentes, pegou num grande embrulho 
e, abanando com a cabeça, virou-se para o Pai Natal: 
„Um computador?! Não vês que os computadores ainda não foram inventados?…“
O Pai Natal desceu do trenó, embaraçado:
„Tens razão….. Não me lembrei…..“
„És muito distraído!“, disse a Mãe Natal.
„E, dirigindo-se de novo ao trenó:
„É melhor eu verificar os outros presentes…..“
Com a alegria do nascimento do Menino Jesus e com a vontade que tinha de o fazer feliz, 
O Pai Natal tinha carregado o trenó com os melhores presentes que encontrou: jogos de computador, um carro de bombeiros com telecomando, um comboio eléctrico, uma bicicleta…..
„Que distraído, que distraído!“, dizia a Mãe Natal enquanto ia tirando os presentes do trenó e os entregava aos elfos para que os guardassem novamente.
O Pai Natal estava muito envergonhado. Além disso, como a Mãe Natal continuava a tirar presentes do trenó e a dizer Que distraído! Que distraído!“, começava a impacientar-se:
„Depressa, senão perco a Estrela de Belém e não encontro o caminho!“
Finalmente a Mãe Natal descarregou o trenó.
Depois foi buscar um belíssimo cavalinho de pau castanho e dourado, com arreios vermelhos.
„Leva o cavalinho. Não há rapaz que não goste de um cavalinho de pau…..“ De repente hesitou, voltando-se de novo para o Pai Natal:
„Tens a certeza de que não é uma Menina Jesus…..?“
„Absoluta“, disse o Pai Natal, já outra vez em cima do trenó.
Deu um beijo à Mãe Natal e gritou para as renas:
„Vamos, Dasher!, vamos Dancer!, vamos, Prancer e Vixen! Força, Cometa!, força Cupido!, força Dunder e Blixem! Ohhooooo! Ohhooooo!…..“
O trenó levantou voo céu fora, a caminho de Belém. A Mãe Natal ficou a acenar até ele desaparecer no horizonte. Depois pegou nos sacos das compras e entrou finalmente em casa.
Do Pólo Norte a Belém é uma longa viagem.
Ainda por cima, Vixen estava muito constipada e tossiu e espirrou todo o caminho, tendo sido 
preciso parar várias vezes para ela tomar os remédios. 
Por isso, quando o Pai Natal chegou ao estábulo onde nascera o Menino Jesus e estacionou o trenó, 
já os camelos dos Reis Magos lá estavam, amarrados a grandes argolas.

„Que pena“, pensou o Pai Natal. „Os Reis Magos chegaram primeiro que eu…“
Desceu do trenó, pegou no cavalinho de pau e dirigiu-se para a porta do estábulo. Mas, à porta, os seguranças dos Reis Magos barraram-lhe a entrada:
„Não pode entrar!“ disseram-lhe os guardas.
„Mas…“, disse o Pai Natal. „Trago um presente de Natal para o Menino Jesus…“
„Seja o que for! Não pode entrar ninguém!, repetiram os guardas, virando as costas.
O Pai Natal ficou desolado. Viera de tão longe, com um presente tão bonito! Olhou em volta e teve, então, uma ideia. Dunder era muito alta e, com a sua ajuda e a de Blixem, subiu ao telhado do estábulo e meteu-se pela chaminé. 
Não foi fácil, porque o Pai Natal já não era um jovem e porque o cavalinho de pau era grande de mais.
Mas, ao cabo de várias tentativas, o Pai Natal conseguiu por fim descer pela chaminé e, pé ante pé, sem ninguém o ver, pôs o cavalinho no sapatinho do Menino Jesus.
Quando viu o presente, ficou felicíssimo. Um cavalinho de pau! Desinteressou-se imediatamente do ouro, do incenso e da mirra que lhe tinham trazido os Reis Magos.
Estes ficaram um pouco decepcionados. E, quando o Menino Jesus adormeceu na manjedoura, Nossa Senhora procurou desculpá-lo:
„Não façam caso, é uma criança…“, disse ela aos Reis Magos.
„Nós compreendemos, nós compreendemos“, disseram Gaspar, Baltazar e Belchior. Mas, lá no fundo, achavam que um Deus, mesmo sendo apenas um menino, deveria apreciar prendas tão valiosas como as suas.
„Afinal é o Rei dos Reis…“, comentaram uns com os outros, já de regresso aos seus reinos. „Onde é que já se viu um Rei ficar tão feliz com um cavalinho de pau?“
O Menino Jesus nunca mais se separou do cavalinho castanho de crina dourada. Pôs-lhe o nome de „Galope“ e adormecia todas as noites abraçado a ele.
E, quando a família fugiu para o Egipto, foi a única coisa que quis levar consigo, apesar de os pais terem insistido para que pensasse no seu futuro e levasse o ouro.
No Egipto, longe de casa, sem amigos para brincar, „Galope“ foi sempre o melhor companheiro do Menino Jesus. E, muitos anos depois, quando morreu na cruz e subiu ao Céu, a sua última lembrança foi o seu cavalinho de crina dourada.


 

Uma história de Manuel António Pina
Com ilustrações de Danuta Wojciechowska

Os incitamentos do Pai Natal às renas são versos do poema infantil „An Account of a Visit from St. Nicholas“, de Clement Clarke Moore, que terá dado origem à lenda de Santa Claus.


Kommentare

  1. Espero que a história acabe bem, não vá descobrir-se que o Pai Natal comprou as prendas na loja do "xenês".

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    1. O jornalista e escritor português, Manuel António Pina, premiado em 2011 com o Prémio Camões, nunca escreveu histórias pirosas.

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    1. O mais importante já está escrito:

      „ Quando viu o presente, ficou felicíssimo. Um cavalinho de pau!
      Desinteressou-se imediatamente do ouro, do incenso e da mirra
      que lhe tinham trazido os Reis Magos.“

      E os Reis Magos ficaram decepcionados.

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  3. Antworten
    1. Pedro, associe-se à magia da quadra natalícia — que termina hoje — com a leitura do conto
      “O Cavalinho de Pau do Menino Jesus” de Manuel António Pina.

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  4. Lia sempre as estupendas Crónicas de Manuel António Pina, na revista "Visão".

    Que o Dia de Reis acabe em alegria!

    Abraço :)

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    1. Desde as crónicas à poesia — li com enorme prazer a obra de Manuel António Pina.

      Termino o Dia dos Reis Magos com uma comédia britânica.
      E, com um pedaço de bolo alemão, embora eu preferisse uma fatia de Bolo Rei 🤴

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  5. Conheço muitas histórias de Manuel António Pina mas não conhecia esta que é uma delícia.
    No meu sótão descansa um cavalinho de pau do meu filho mais novo.

    Abraço

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    1. „Não há rapaz que não goste de um cavalinho de pau…..“

      Não há raparigas do clã Hoffbauer que não gostem de cavalinhos de pau …!!!

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  6. Gostei de ler. Confesso não conhecia :)
    -
    A vida são finos instantes que se aproveitam
    -
    Bom Ano, e uma excelente tarde!

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    1. Como autor de literatura para a infância, a sua obra tem um lugar à parte no panorama nacional, mercê de um nonsense de tradição anglo-saxónica (onde poderemos detectar a herança de Lewis Carroll) que brinca, inteligente e seriamente, com as palavras e os conceitos, num jogo de imaginação sem tréguas.

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  7. Venho retribuir e agradecer em atraso os votos de um Dia de Reis cheio de magia.

    Abraço

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    1. E mesmo que os ditos não tenham existido, fecham com chave de ouro e incenso e mirra — tudo bom material — a época natalícia 🤶

      Abraço forte da amiga de longe 🍀

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