Die gestundete Zeit || O tempo adiado



Vêm aí dias piores.
O tempo adiado até nova ordem
surge no horizonte.
Em breve deves amarrar os sapatos
 e espantar os cães para os charcos.
Pois as vísceras dos peixes
esfriaram no vento.
A luz da anileira arde pobremente.
Teu olhar pressente a penumbra:
o tempo adiado até nova ordem
desponta no horizonte.

Do outro lado afunda tua amada na areia,
ele sobe-lhe pelo cabelo esvoaçante,
ele corta-lhe a palavra,
ele ordena-lhe silêncio,
ele encontra-a mortal
e pronta para a despedida
depois de cada abraço.

Não olha para trás.
Amarra teus sapatos.
Espanta os cães.
Joga os peixes ao mar.
Anula a anileira!

Vêm aí dias piores.

Kommentare

  1. Um poema com características muito particulares, necessário conhecer o percurso da autora e a sua ligação a Paul Celan.

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    1. Embora o relacionamento amoroso entre Paul Celan e Ingeborg Bachmann fosse difícil — influenciou a produção poética de ambos.

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  2. Há sempre a possibilidade de dias piores.
    Mas não gosto nada dos actuais.

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  3. Ainda que desconheça o percurso da autora, este é um "poema dos diabos" - no melhor dos sentidos, na minha gíria familiar - que , neste instante, vejo como actualíssimo.

    Abraço, Teresa!

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    1. Ingeborg Bachmann era “uma mulher dos diabos” em todos os sentidos. Atrevo-me a contrariar as feministas alemães, ao dizer que ela não foi a vítima dos seus amantes — antes pelo contrário.

      Abraço forte e outonal 🍂

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  4. Vêm aí dias piores. Mas isso é de certeza absoluta. Aproxima-se o frio e a chuva do inverno, (lol)
    Claro que gostei de ler. Poema intenso, profundo, liricamente poético

    Beijinho daqui

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    1. Já em 1953 os dias eram difíceis — ano da publicação de “O TEMPO ADIADO E OUTROS POEMAS” de Ingeborg Bachmann uma das maiores vozes da língua alemã no século XX.

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  5. Um pessimismo cheio de beleza!

    Abraço

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    1. Como não podia deixar de ser, a austríaca tem versos optimistas:

      “Haja o que houver:
      sabes a tua hora,
      o meu pássaro,
      pega o teu véu
      e voa até mim pela névoa”

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