CORONA || PAUL CELAN



Da mão o outono me come sua folha: somos amigos. 
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamo-lo a andar:
o tempo retorna à casca.

No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca fala verdade.

O meu olho desce ao sexo da amada:
 olhamo-nos,
dizemo-nos coisas sombrias,
amamo-nos como papoila e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio sangrento da lua.

Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:
é tempo que saibam!
É tempo da pedra dispor-se a florescer, 
que a inquietação faça bater um coração.
É tempo de ser tempo.

É tempo

Kommentare

  1. O tempo é a grande condicionante de tudo, sufoca-nos, adoece-nos, empobrece-nos... mata-nos.

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. O tempo é apenas uma persistente ilusão na opinião do criador da Teoria da Relatividade ⏳

      Löschen
  2. Ele disse que era uma ilusão mas... usava relógio, calendário, dormia de noite, etc. Teorias objecto da filosofia.

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. A Teoria da Relatividade coloca em questão o tempo e como o percebemos, admitindo que as noções do passado, presente e futuro são relativas, embora seja facto que esses tempos pertençam ao mesmo instante.

      Ilusão em ilusão entro nos meus lençóis brancos e digo boa noite 💤

      Löschen
  3. É tempo de retomar a liberdade perdida.

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. Retomar a liberdade perdida é uma outra ilusão persistente 😷

      Löschen
  4. A minha Musa diz-me exactamente o mesmo que Einsten afirma, mas a carne, o sangue e os ossos desmentem-na a toda a hora.

    Belo poema de Paul Celan encimado por aquilo que me parece uma representação de uma linha de Moëbius a que se vieram juntar mais algumas representações gráficas.

    Forte abraço, Teresa.

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. A teoria da relatividade de Albert Einstein que revolucionou completamente a compreensão da ciência sobre o universo — desde sempre me fascinou — embora receei não a ter compreendido.

      No poema “Corona”, que significa “coroa de noiva”, Paul Celan expressa a sua afeição || o seu amor pela Ingeborg Bachmann, que ele conheceu em 1948, em Viena.

      As representações gráficas de Jorinde Voigt sobre obras literárias são absolutamente ao meu gosto.

      Abraço forte e outonal 🍂

      Löschen
  5. É sempre tempo de ler um belo poema outonal!

    Abraço

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. A POESIA de Paul Celan é invernal, obscura e enigmática.

      Löschen
  6. Que bonito, Teresa!
    Um abraço daqui.

    AntwortenLöschen
  7. Um poema poderoso, rico!
    A imagem é brilhante! 🌹
    *
    Beijo, e uma boa noite!

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. Fala do amor entre Paul Celan e a escritora, dramaturga e poeta austríaca: Ingeborg Bachmann. A imagem de Jorinde Voigt sintoniza absolutamente com o poema obscuro e vigoroso.

      Boa noite 💤

      Löschen

Kommentar veröffentlichen

Beliebte Posts aus diesem Blog

Tudo menos plano!