As cartas perdidas



Em Fevereiro, 1948, o dirigente comunista Klement Gottwald subiu à varanda de um palácio barroco de Praga para falar às centenas de milhares de cidadãos aglomerados na praça da velha cidade. Foi uma grande viragem na história da Boémia. Um momento fatídico, como acontece uma ou duas vezes por milénio.
Gottwald fazia-se acompanhar pelos camaradas, e ao lado, muito perto, estava Clementis. Nevava, fazia muito frio, e Gottwald vinha de cabeça  descoberta. Clementis, muito solícito, tirou o gorro em pele que trazia e colocou-o na cabeça de Gottwald.
A secção de propaganda fez centenas de milhares de exemplares da fotografia da varanda de onde Gottwald, de gorro em pele e rodeado pelos camaradas, fala ao povo. Nesta varanda começou a História da Boémia comunista. Todas as crianças conheciam a fotografia, porque a tinham visto nos cartazes, nos manuais ou nos museus.
Quatro anos mais tarde, Clementis foi acusado de traição e enforcado. A secção de propaganda fez com que ele desaparecesse imediatamente da História e, como é evidente, de todas as fotografias. A partir daí, Gottwald está sozinho na varanda. Onde ficava Clementis já só fica a parede vazia do palácio. De Clementis resta o gorro em pele na cabeça de Gottwald.
 

Kommentare

  1. Deste escritor tenho apenas “A Insustentável Leveza do Ser”.
    A imagem do cabeçalho é giríssima!

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    1. Claro que também li „A Insustentável Leveza do Ser“ — considerado pela crítica como um dos mais importantes romances publicados no século XX.

      A imagem do cabeçalho é uma homenagem ao tempo de verão que estamos a viver neste momento na Alemanha. A temperatura máxima de hoje, em Düsseldorf, foi de 21° 🌼

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  2. Li o mesmo que vocês leram.
    Agora fica esta sugestão em lista.

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    1. As desilusões de Milan Kundera numa narrativa política e erótica.

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  3. Algo estranho com este livro, li-o por volta de 1990, não fiquei com a menor ideia dele... mesmo agora não me fez recordar. Estranho mesmo.

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    1. Algo estranho com este livro, é que o comprei ao mesmo tempo que „A insustentável Leveza do Ser“ — que li imediatamente — enquanto que este livro nunca me apeteceu ler 📖

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  4. De Kundera só li o que já foi referido.
    Há quem consiga apagar a História!

    Abraço

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    1. É uma narrativa amarga sobre o quotidiano na República Tcheca após a invasão russa de 1968.

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  5. Desconheço o escritor. Mas gostei de ler!
    -
    "Uma janela para a vida"
    -
    Um excelente dia. Beijo :)

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  6. Se as cartas se perderam é porque o carteiro não era o de Neruda.
    De Kundera, li o que toda a gente já leu, há tanto tempo que precisava de o reler.

    Bom fim de semana, Teresa Hoffbauer.

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    1. „O Carteiro de Pablo Neruda“ é uma comédia romântica e divertida. Enquanto que o livro de Milan Kundera narra a experiência trágica com a ideologia comunista. O governo checo retira-lhe a nacionalidade, reagindo assim à publicação de „O livro do Riso e do Esquecimento“

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  7. Existe quem defenda que certos fatos sejam apagados da história. Nem sei o que dizer. Um País não é construído só por coisas boas. Muitas coisas más, serviram de exemplo, a fim de que acontecessem coisas boas. Se calhar não será correto apagar certos fatos considerados menos bons, e só ficar com os ( alguns consideram ) bons. Mas pronto A história é feitas de contrastes e, assim sendo, caminhemos em frente

    Deixando um beijinho.
    .
    Feliz fim de semana.
    .

    .

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    1. Este livro, o primeiro que Milan Kundera escreveu após a sua chegada a França, assinala duas verdades fundamentais: a experiência terrível de Praga e a da vida no Ocidente, que ele encara com algum cepticismo.

      Um beijo solidário na perda mais dolorosa, sentida pelo ser humano 🤍

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    2. Obrigado Teresa, pelo teu beijo de solidariedade.

      És um amor

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