«A Trança» de Laetitia Colombani


Três mulheres.
Três vidas.
Três continentes.
O mesmo desejo de liberdade.


Nas páginas de «A Trança» da francesa Laetitia Colombani, viajamos até à Índia para conhecer Smita e a sua filha Lalita.

«Smita sabe que tem sorte: Nagarajan nunca lhe bateu, nunca a insultou. Quando Lalita nasceu, até concordou em ficar com ela. Não muito longe dali as raparigas são mortas à nascença. Nas aldeias do Rajastão, enterram-nas vivas, põem-nas numa caixa debaixo da areia, logo após o nascimento. As meninas levam uma noite a morrer.» 

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 Em Palermo, Sicília, Giulia descobre, após o acidente do pai, que a fábrica de perucas, que ele geria, está na ruína. Giulia decide modernizar a fábrica e investir em cabelo verdadeiro para as suas perucas. 

«O pai vigia os cabelos como a mamma vigia a pasta. Revolve-os com a ajuda de uma colher de pau, deixa-os repousar antes de repetir o gesto, incansavelmente. É um trabalho de paciência e rigor, e de amor também. Às vezes, Giulia põe-se a imaginar as mulheres a quem as perucas se destinam – os homens sicilianos não usam cabelo postiço, são demasiado orgulhosos, demasiado apegados a uma certa ideia de virilidade.»


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E em Montreal, Canadá, a ambiciosa advogada Sarah fica destroçada ao saber que sofre de cancro da mama. Quando começa a perder o cabelo, decide comprar uma peruca para reconquistar a autoconfiança.

«O que receava acabou por acontecer: Sarah tornou-se o seu cancro. É o seu tumor personificado. Nela, as pessoas já não vêem uma mulher de quarenta anos inteligente, elegante, competente, mas a encarnação da sua doença. (…) Sarah passa os seus dias assim, numa letargia mórbida, num entorpecimento progressivo. Entrega-se à deriva, longe do mundo. Revê mentalmente o filme daquelas últimas semanas, pergunta-se o que poderia ter feito para inverter o rumo dos acontecimentos. Nada, certamente. Tudo se jogou sem ela. Game over. Terminou. (…) O cancro acabará por lhe tirar tudo: o emprego, a aparência, a feminilidade


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É uma trança de esperança e solidariedade que une estas três mulheres, tão diferentes como as suas histórias e, no entanto, tocam-se na coragem, na força e na mesma sede pela liberdade.

Kommentare

  1. Anonym9/14/2018

    O assunto parece-me interessante, embora a minha hipocondria oncológica obsessiva obriga-me a ter algum cuidado.
    Carlos Faria

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    1. A história que realmente me impressionou foi a história de Smita.
      A história da jovem italiana Giulia é mais leve e colorida.
      Quem *mata* Sarah, a advogada de Montreal, nem é bem a doença, é sim, a sua ambição, o seu perfeicionismo.
      Embora não seja uma obra prima, gostei deste cocktail de luta, de solidariedade e de coragem.

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  2. Não conhecia esta obra, mas já a adicionei à minha lista! Fiquei mesmo curiosa *-*

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    1. Uma verdadeira pérola da literatura feminina???

      É sim, um hino à vida e à coragem de todas as mulheres do mundo.

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  3. Há tanta gente a escrever muito e bem. E parece que os leitores são poucos.

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    1. Aqui, não temos falta de leitores.
      Principalmente, as mulheres amam a literatura.

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  4. r: O talento é de família!
    Pois, isso também não sei :/

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    1. Ditado antigo: *Quem sai aos seus não degenera*

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  5. Antworten
    1. Agradeço-te, Andreia, que não agradeças!
      Eu gosto ou não gosto. É tudo!

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