auto-retrato
Este que vês, de cores desprovido,
O meu retrato sem primores é
E dos falsos temores já despido
em sua luz oculta põe a fé.
Do oculto sentido dolorido,
este que vês, lúcido espelho é
e do passado o grito reduzido,
o estrago oculto pela mão da fé.
Oculto nele e nele convertido
do tempo ido excusa o cruel trato,
que o tempo em tudo apaga o sentido;
E so meu sonho transformado em acto,
do engano do mundo já despido,
este que vês, é o meu retrato.
Ana Hatherly
A idade da escrita 1998