A Concha

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

Vitorino Nemésio — O Bicho Harmonioso (1938)

Kommentare

  1. Anonym3/21/2017

    Não conhecia este poema de Vitorino Nemésio, Teresa. Obrigado pela partilha.
    Beijinhos do matulão de 13 anos :-)

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    1. Com 13 anos, eu era uma linha na paisagem.

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  2. Excelente forma de comemorar este dia

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  3. Boa escolha para este Dia

    Tudo de bom

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    1. Toda a POESIA PORTUGUESA é uma boa escolha.

      Tudo de bom também para ti, São.

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    2. A poesia de Vitorino Nemésio foi uma agradável surpresa para mim que só lhe tinha lido a prosa.
      E este poema é um dos que me surpreendeu.

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    3. Claro que o açoriano se destacou como romancista, autor de Mau Tempo no Canal.

      Na poesia, o papel da memória e da saudade, assim como a obsessão da morte, é fundamental.

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  4. Belo Soneto do Professor açoreano Vitorino Nemésio, que tantas vezes vi e ouvi, na RTP. As suas palestras "Se bem me lembro", eram imperdíveis.
    Adorei, Teresa!

    Um beijinho.

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    1. A nossa POESIA é tão rica que a escolha não foi fácil.

      Beijinhos poéticos da amiga de sempre.

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    2. Quem é que não gosta da POESIA de Vitorino Nemésio?

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