A vida me odeia
Eram umas dez horas da manhā quando a porta se abriu e uma terceira cama entrou no quarto.
De cócoras, agarrada a um urso de peluche, uma garota de uns 17 anos solta um "Hey" que soa como um grito de socorro.
— A vida me odeia. Ainda há pouco tempo sai do hospital, onde estive internada por causa de uma pneumonia, diz com uma voz linda, doce - quase infantil.
Chamo-me Jessica Leslie Kniestedt, para os meus amigos, Kitty. Em 1995 nasci em Marburg. Com sete anos fui viver para Hilden. O meu companheiro nasceu em Leipzig e veio com quatro anos para a NRW. É três anos mais novo do que eu.
Então, aquele matulão com quase dois metros de altura, que eu pensei que era o pai dela, tem apenas 18 anos. Com o boné, quase não lhe vi a cara.
—Tu és uma Punk Lady, Jessica. E o teu amigo?
— Claro que é um Punk.
— Então, porque é que se veste como um camionista?
— Ele diz, que é melhor vestir-se como um burguês para me visitar no hospital, por isso, pediu roupas emprestadas ao director do lar dos sem abrigo, onde actualmente vivemos.
Mais de 30% dos sem-abrigo na Alemanha são crianças e adolescentes. É normal não se saber ao certo quantos sem-abrigo existem na Alemanha, porque as estatisticas estão longe de espelhar a realidade. Cerca de 335.000 pessoas sem tecto foram contadas em 2016.
Jessica diz que está na rua porque quer. Chateou-se com a mãe, porque ela lhe bateu quando chegou a casa de madrugada, alcoolizada e drogada.
— Estou limpa desde há um ano. Cigarros e alcool são o meu problema. Embora ainda seja visto por muitos como um vício, o alcoolismo é uma terrível e fatal doença que quero superar.
— Tens irmãos?
— Tenho dois meios-irmãos e duas meias-irmãs. O meu pai é
um tipo porreiro. Tem cinco filhos de cinco mulheres diferentes. Com os
seus 57 anos é um cavalheiro charmoso e atraente, que impressiona as
mulheres ao seu redor.
A minha mãe é feia como a noite.
— Então, és parecida com o teu pai.
— Não, não sou. Sou a cara chapada da minha mãe.
O rosto de Jessica é lindo com duas covinhas encantadoras. Pena é, que o tenha coberto com tantas jóias de perfuração.
Silêncio.
— Certo que a minha mãe não é feia. Só que não consigo esquecer que ela me tenha batido. Perdoo, mas não esqueço. Além disso, é simpatizante do AfD, enquanto que o meu pai é da extrema esquerda como eu.
— Há cada vez mais razões para adoptar uma visāo marxista ou conservadora da vida. Tanto faz. Os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais consolados.
❥
É altura de terminar a narrativa da punk lady. Não há nada que seja inventado por nós. Ficamos sempre espantadas pela inabalável franqueza desta narradora. Na realidade estamos apenas a balbuciar uma lição aprendida.
O paraíso de Jessica é o Papidoux, sitio de reunião. É uma reserva de calor, conforto e conversa no meio da cidade velha. O resto conta-se mais tarde.
ehehehe... (????) ... A coisa promete ! rsrsrsrs
AntwortenLöschenPelo menos uma companhia "esquisita" durante esses dias, Teresa ! rsrsrs
Bjs
Eu diria uma companheira de quarto interessante, embora com uma biografia trágica.
Löschen
AntwortenLöschenVidas difíceis minha amiga... infelizmente muitas delas por escolha própria.
Beijão Amiga!!
Espero que estejas bem.
(^^)
(se a história é verídica, fico preocupada porque isso provavelmente quererá dizer que estiveste hospitalizada)
LöschenBeijinho
Uma história verídica, ou, mais precisamente, como a Jessica Leslie Kniestedt ma contou, durante as minhas férias de Advento no hospital universitário de Düsseldorf.
AntwortenLöschenBeijinhos a cheirar a azevinho.
Fiquei curiosa sobre como vai continuar a história...
AntwortenLöschenA narrativa de Jessica é emocionante. Até que ponto é verdade? Desconfio um pouquinho.
Löschenfico aguardando o seguimento.
AntwortenLöschenférias de advento num hospital?!
É a minha arte de humor, bea, quando estou irritada com os acontecimentos.
LöschenAh, mas essa menina de voz doce, a Jessica, cujo companheiro ainda é (quase) uma criança, já tem muito para contar.
AntwortenLöschenVerdade ou ficção, venha de lá a narrativa porque fiquei muito curiosa para saber detalhes.
"A vida me odeia" soa-me a sotaque brasileiro. Veremos, o que vem a seguir.( ao advento)
Beijinhos, Teresa.
Hannes, o companheiro da mocinha de voz doce, mede 1,96m, mas ainda está muito verde atrás das orelhas.
LöschenJessica prendeu-me com a sua arte de fabular.
Embora "A vida odeia-me" seja português mais correcto, tomei a liberdade de escolher "A vida me odeia", frase que ela repetia constantemente em alemão.
Beijinhos da amiga de longe 🎄
Hummm....eu diria ao contrário, ela odeia a viva. Mas pronto, vamos lá continuar com a narrativa (ui, narrativa!...). Esta história parece o filme "A rapariga do comboio". Sempre que há novo acontecimento, vem cheio de não presta:). Tem a vantagem de podermos dizer coisas e não termos pago bilhete.
AntwortenLöschenqueria dizer, "ela odeia a vida".
AntwortenLöschenJessica ama a vida, a vida é que não ama a Jessica.
LöschenInfelizmente, eu não tenho o talento de escrever como a autora do romance policial "A Rapariga do Comboio", no entanto, concordo que a narrativa da Jessica é de certo modo idêntica.
E eu vou continuar a acompanhar.
AntwortenLöschenBoa semana
Boa semana, Pedro.
LöschenO meu desejo é pôr toda a gente a gostar desta menina rebelde. Só com simpatia pode ser compreendida.
Estou curiosa pois à partida pensei que era ficção agora que sei ser uma história verdadeira e passada num mundo que me é totalmente estranho...fico apreensiva.
AntwortenLöschenBejs Teresa.
Enfim, gostei de entrar num mundo que também me era totalmente estranho, papoila.
LöschenNão há nem sombra de "anjos" nem sombra de pecado. Há sim, uma certa cumplicidade, mais ou menos divertida.
Não me é muito simpática a garota. Sinal de que preciso ler mais história:)
AntwortenLöschenPartilhei um quarto com a Jessica durante quatro dias, entretanto, a narrativa está a chegar ao fim. Há ainda alguns detalhes que, por razões de pudor, nāo penso publicar. O resto conto mais tarde.
LöschenEspero que já estejas bem e recuperada dessas tuas "férias".
LöschenFicamos a aguardar o resto da história não censurada!
Beijinhos sem censura
(^^)
Não estou nem bem nem recuperada, Afrodite. Tal como Marcel Proust estou a escrever na cama.
LöschenNäturalmente lisonjeada pelo extraordinário impacte da sua narrativa, Jessica não perdeu de contar segredos de alcova.
Beijinhos mais que humanos.
Pois é Teresa. Eu estou, desde o primeiro comentário à espera do seguimento ! ... Por isso disse que "A coisa promete" ! ... Nós queremos é saber da parte censurada ! eheheheh
AntwortenLöschenBeijo ! :)
"A coisa não promete", Rui. É apenas um relato quotidiano. Só que por outras vias.
LöschenBeijo saudoso.
Hummm...não achei grande coisa. Sorry.
AntwortenLöschenA vida de uma jovem sem abrigo não tem nada de espectacular, bea, embora eu tenha evitado escrever sobre os detalhes mais violentos.
LöschenO aspecto mais tocante de Jessica reside precisamente no modo como ela ama a vida, embora a vida tenha multiplicado sobre ela os "handicaps" mais severos.
Espectacular é termo seu. Eu quis apenas dizer que não achei uma boa história. Contar é uma arte.
AntwortenLöschenNão tenho a arte de contar, bea, porque a vida de Jessica é uma boa história.
LöschenVou voltar ao tema logo que a saúde mo permita.
Desculpa , se estou um pouco baralhado, Teresa ! Creio que quando li este post não estava como agora (embora, pelo que li, ainda não completo ! (?)
AntwortenLöschenDizes tu que não tens jeito para contar estórias ?! ... Esta está muito boa e muito bem escrita ! rsrsrs
Falta a parte da alcova ! rsrsrs
Sabes que uma noite em Koln fiquei surpreendido, por frente à catedral, cerca das 11 da noite, ver a polícia a levantar "sem-abrigos" dos bancos do Largo e a metê-los numa carrinha. Ainda julguei que fosse para os prender, mas explicaram-me que era para dormirem sob um tecto ! (?)
Espero que tenhas sentido melhoras ! ...
Um Beijo e "põe-te fina" que o Natal está à porta ! :))
Teresa,
AntwortenLöschenDesejo-lhe rápidas melhoras, bem como um feliz Natal junto da sua família.
Beijo