Inventário

«De que sedas se fizeram os teus dedos,
De que marfim as tuas coxas lisas,

De que alturas chegou ao teu andar
A graça de camurça com que pisas.

De que amoras maduras se espremeu
O gosto acidulado do teu seio,
De que Índias o bambu da tua cinta,
O oiro dos teus olhos, donde veio.

A que balanço de onda vais buscar
A linha serpentina dos quadris,
Onde nasce a frescura dessa fonte
Que sai da tua boca quando ris.

De que bosques marinhos se soltou
A folha de coral das tuas portas,
Que perfume te anuncia quando vens
Cercar-me de desejo a horas mortas.»

O poema «Inventário» pertence ao livro Os Poemas Possíveis
(Editorial Caminho, 1999, 5ª edição)

Se fosse vivo, José Saramago, completaria hoje, dia 16 de Novembro, 90 anos.
É um autor que não precisa de apresentações, mas a poesia é conhecida de poucos.

Kommentare

  1. Eu descobri a sua poesia há poucos anos!
    Lindo este poema!

    Abraço

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    1. Só pela sua poesia o José Saramago merecia o Prémio Nobel.

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  2. Procurei ler, sem ver o autor ! Que grande surpresa ! Não conhecia os dotes de poeta de Saramago !
    Belíssimo poema ! Já da sua obra, em prosa, não sou grande apreciador !

    Bjs
    .

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    1. "Aguentem aí os malvados, que a minha tropa de alentejanos já vai a caminho, dizemo-lo assim por vir essa gente de além do Tejo, ficando demostrado, de caminho, que já havia alentejanos antes de haver portugueses."

      José Saramago, História do Cerco de Lisboa, Caminho, p. 176.

      Rui, já leste este romance do nosso Nobel?
      É um dos meus livros preferidos!

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    2. Não. Não li. Fiquei curioso e vou procurar.

      Obrigado, Teresa !
      .

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  3. É um trabalho interessante.

    Desconhecia - oh santa ignorância! - que Saramago era aniversariante no mesmo dia que eu.

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    1. José Saramago nasceu no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento.

      Agora vou cantar os parabéns lá na sua casa, Observador.

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  4. Nunca me esqueço do aniversário de Saramago porque é o mesmo da minha mãe.
    Obrigada, Teresa, pela sua mensagem.
    Quem quer bem à minha mãe, derrete-me o coração.
    Um grande beijinho!

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    1. Ainda um dia hei-de conhecer a tua mãe, Ritinha.

      Por razões familiares não fui ao Porto este ano, mas logo que lá vá, temos de nos encontrar, e então, terei a oportunidade de me encontar com a tua mãe.

      Até lá um abraço de amizade para ambas.

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