Não fujam da catástrofe! No ano de todas as crises, esta poderia ser a divisa de uma das mais controversas figuras do teatro contemporâneo: Howard Barker, dramaturgo inglês cujo labor visa a revitalização da tragédia e uma arte do excesso. De novo na companhia de Rogério de Carvalho, o encenador que em Portugal melhor conhece os argumentos do ideólogo do Teatro da Catástrofe, As Boas Raparigas regressam àquele que pode ser designado como o seu autor fetiche. Fazem-no apresentando Devagar, peça onde quatro princesas debatem o seu destino enquanto os bárbaros avançam em direção ao palácio, devastando a civilização e escravizando as populações. A honra exige o suicídio, mas o impulso de viver revela-se demasiado forte. A esta peça de 2010 junta-se ainda um fragmento de Cinco Nomes (2011): o monólogo de um soldado mutilado que, entre a mendicância e a cólera, dialoga com um eremita invisível, empoleirado na sua coluna. De Devagar não se pode esperar um espetáculo de digestão fácil ou consumo rápido. Este é um teatro árduo, que mobiliza o mito, a história e o presente, mas imensamente fascinante, ao operar nos limites da experiência humana, entre a beleza e a violência, a elevação e a sordidez.
Não fujam da catástrofe!
AntwortenLöschenNo ano de todas as crises, esta poderia ser a divisa de uma das mais controversas figuras do teatro contemporâneo: Howard Barker, dramaturgo inglês cujo labor visa a revitalização da tragédia e uma arte do excesso.
De novo na companhia de Rogério de Carvalho, o encenador que em Portugal melhor conhece os argumentos do ideólogo do Teatro da Catástrofe, As Boas Raparigas regressam àquele que pode ser designado como o seu autor fetiche.
Fazem-no apresentando Devagar, peça onde quatro princesas debatem o seu destino enquanto os bárbaros avançam em direção ao palácio, devastando a civilização e escravizando as populações. A honra exige o suicídio, mas o impulso de viver revela-se demasiado forte.
A esta peça de 2010 junta-se ainda um fragmento de Cinco Nomes (2011): o monólogo de um soldado mutilado que, entre a mendicância e a cólera, dialoga com um eremita invisível, empoleirado na sua coluna.
De Devagar não se pode esperar um espetáculo de digestão fácil ou consumo rápido. Este é um teatro árduo, que mobiliza o mito, a história e o presente, mas imensamente fascinante, ao operar nos limites da experiência humana, entre a beleza e a violência, a elevação e a sordidez.