NOITE DE CONSOADA
A noite pôs-se glacial, o céu coalhou-se de estrelas, e no pequeno largozinho arde já a grande fogueira que enche tudo em volta de luzes fantasmagóricas. Espreita-se pela janela, porque o frio é de cortar os ossos, e dentro, nas lareiras, arde um fogo bom de torgas e pinhas. A ceia não tarda, e entretanto bebe-se um cálice de vinho fino, para mais atiçar o apetite.
Sentados à grande mesa, todos riem e galhofam, mas eis que chega o esperado e fiel amigo, e faz-se então o silêncio das grandes ocasiões. Enchem-se os pratos desta delícia e é uma refeição inteira, que para ser a preceito apenas se completa com os doces tradicionais desse dia e as frutas secas que também é de uso petiscar — os figos, as passas de uva, as peras e as ameixas, a noz e a avelã, a amêndoa e o pinhão —, depois do vinho de mesa, fazem boca para os vinhos mais apaladados, que no Alto Douro são de se lhe tirar o chapéu.
A ementa assim concebida, sem fugir ao conceito do dia de jejum, eis o que nesta noite reúne em torno da acolhedora mesa familiar os parentes e os amigos próximos. É uma refeição festiva, a grande ceia da consoada, em que cada um se desforra conforme pode e as circunstâncias lhe permitem. A fumegar, entra a travessa com o fiel amigo e todos os que em solene corte o acompanham. Com a sua presença reconfortam-se as almas de um calor amável e os olhos brilham para a bela aparição. No açafate, rescende o pão de trigo alvo, e os copos, à transparência alegre do vidro, os vinhos ganham cores e reflexos de magia. Sobre a alvura da toalha tudo resplandece do mesmo ar festivo.
É um quadro admirável.
Manuel Mendes "Douro"
Sentados à grande mesa, todos riem e galhofam, mas eis que chega o esperado e fiel amigo, e faz-se então o silêncio das grandes ocasiões. Enchem-se os pratos desta delícia e é uma refeição inteira, que para ser a preceito apenas se completa com os doces tradicionais desse dia e as frutas secas que também é de uso petiscar — os figos, as passas de uva, as peras e as ameixas, a noz e a avelã, a amêndoa e o pinhão —, depois do vinho de mesa, fazem boca para os vinhos mais apaladados, que no Alto Douro são de se lhe tirar o chapéu.
A ementa assim concebida, sem fugir ao conceito do dia de jejum, eis o que nesta noite reúne em torno da acolhedora mesa familiar os parentes e os amigos próximos. É uma refeição festiva, a grande ceia da consoada, em que cada um se desforra conforme pode e as circunstâncias lhe permitem. A fumegar, entra a travessa com o fiel amigo e todos os que em solene corte o acompanham. Com a sua presença reconfortam-se as almas de um calor amável e os olhos brilham para a bela aparição. No açafate, rescende o pão de trigo alvo, e os copos, à transparência alegre do vidro, os vinhos ganham cores e reflexos de magia. Sobre a alvura da toalha tudo resplandece do mesmo ar festivo.
É um quadro admirável.
Manuel Mendes "Douro"
São sempre deliciosas estas narrativas!
AntwortenLöschenAquele abraço
Uma narrativa não muito diferente do que se vive na consoada, um pouco por todo o país... :)
AntwortenLöschenBeijocas e continuação das melhoras!
Natal da Aldeia, o mais belo dos Natais.
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