Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~


Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.

Chorámos, rimos, cantámos.

Falou-me do seu destino,
Do seu fado...

Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.

O seu hálito perfuma,
E o seu perfume faz mal!

Deserto de águas sem fim.

Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?...

Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia
De roxo as águas tingia.

«Voz do mar, misteriosa;
Voz do amor e da verdade!
- Ó voz moribunda e doce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte...»


E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!

António Botto, in Canções

Kommentare

  1. Tão esquecido este poeta!
    Obrigada por mo lembrares!

    Abraço

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  2. Tal com a Rosa dos Ventos, j'a nem me lembrava de António Botto.
    Ainda bem que o trouxe aqui.

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  3. Gostei muito deste poema - canção! Que não conhecia de todo, embora o poeta não me seja estranho... :)

    Beijocas dos algarves! :)

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