ODISSEIA: TEATRO DO MUNDO

Do outro lado do Atlântico chegam-nos duas criações de Antunes Filho – encenador que participou activamente do movimento de renovação cénica do Brasil desde os anos 1960 – que nos proporcionam um mergulho na cultura e na identidade brasileiras: Policarpo Quaresma, adaptação da obra-prima de Lima Barreto, e Lamartine Babo, espectáculo sobre um dos maiores compositores de música popular do Brasil. Os dois espectáculos tratam, cada um a seu modo, do Rio de Janeiro, cidade que protagonizou decisivas transformações nos costumes e na vida política do Brasil.

Adaptação do romance escrito há precisamente um século por Lima Barreto, um dos mais destacados escritores libertários brasileiros, Policarpo Quaresma projecta-nos contra o pano de fundo da instauração da república no Brasil, no final do séc. XIX. Nele se encena o trágico trajecto de um inesquecível anti-herói da literatura brasileira, personagem erigida em símbolo pela sua devoção à causa nacional. Ao conjugar linguagens como as da commedia dell’arte, do circo, do teatro de revista, das operetas e do cinema dos Irmãos Marx, Antunes Filho transforma a sucessão de decepções desse Quixote brasileiro num viscontiano ballet cénico, imageticamente transbordante.

Por seu turno, Lamartine Babo é um “musical dramático” – e artesanal, nos antípodas dos plastificados musicais de franchising. Encenado por Emerson Danesi, companheiro de estrada de Antunes Filho no Centro de Pesquisa Teatral, o espectáculo é atravessado pelas canções do compositor carioca Lamartine Babo, ícone de criatividade e irreverência, célebre pelas suas marchas carnavalescas e pelos hinos compostos para clubes de futebol.

Com Policarpo Quaresma e Lamartine Babo, Antunes Filho aprofunda a vasta investigação sobre a identidade brasileira iniciada com o já lendário Macunaíma, espectáculo de 1978 que marcou um ponto de viragem na cena teatral do Brasil. E perfaz a sua trilogia dedicada ao Rio de Janeiro, iniciada com A Falecida Vapt-Vupt, encenação da “tragédia carioca” de Nelson Rodrigues que o TNSJ apresentou em 2009.

Kommentare

  1. A minha Professora de Teatro queria levar a turma a ver esta paça mas estava esgotada e não se conseguia marcar para um grupo de vinte pessoas!

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