Duas mulheres de Janeiro

Ainda não é desta vez que escrevo sobre o encontro da Teresa e do Alberto naquela tarde escaldante de Agosto, num escritório da TAP no Porto.
Bem — é uma história de verão, que contarei na altura apropriada.

Ramo de papaver nudicaule — Georg Arends 16.7.1925

Hoje quero homenagear duas mulheres, pelo facto de ambas terem nascido no mesmo dia, embora em anos diferentes — duas mulheres muito importantes na minha vida.

A mais velha — a francesa Simone de Beauvoir.
Entre os 15 e 17 anos, lia tudo o que apanhava dela.
"O Segundo Sexo" era a minha bíblia, e ainda hoje, não me deixa indiferente.
É óbvio, que com a minha origem e educação burguesa, não poderia deixar de me identificar com as "Memórias de uma menina bem-comportada".
Aos 15 anos — tal como Simone — deixei de acreditar em Deus.
Queria como Sartre e Simone uma união livre — em vez de pedi-la em casamento, Sartre propõe-lhe um pacto no qual monogamia e mentira não
teriam lugar. Sartre acredita que antes de serem amantes, eles eram escritores, e como tal precisariam conhecer a fundo a alma humana, multiplicando suas experiências individuais e contando-as, um ao outro, nos mínimos detalhes.

Entre Simone e Sartre o amor seria necessário, com as demais pessoas, seria contingente. Beauvoir aceita o pacto, pois ele está de acordo com suas próprias convicções.


A outra — a minha sogra.
Johanna foi uma mulher que se realizou na sua vida através do amor pela sua família de uma forma quase dolorosa — ao todo seis filhos.
Mulher de uma força telúrica, por vezes mesmo assustadora.
De certo modo sou o negativo de Johanna — e no início houve toda uma série de conflitos entre nós as duas — mas depressa compreendemos que a nossa pequena guerra não podia continuar no futuro e, influenciada por ela, consegui controlar as minhas próprias inclinações feministas, o meu ódio pelo trabalho doméstico e o desprezo que sentia por quem o executava.

Bem vistas as coisas, Simone e Johanna foram cada uma delas à sua maneira — duas mulheres extraordinárias.

Kommentare

  1. Ah, Simone de Beauvoir. Gosto. Li bastante na minha adolescência também. confesso que talvez porque não tenha conseguido entender não fiquei com grandes memórias ...

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  2. Chiu, não digas nada a ninguém, mas nunca li nada da Simone Beauvoir! Sei apenas que era uma feminista convicta e que lutava pelas suas causas. Não sei se ainda vou a tempo de ler...

    E de Sarte li dois livros, mas é demasiado sério e filosófico para gostar muito. Aliás, um dos livros era um peça de teatro "Os sequestrados de Altona", que não entendi muito bem, porque o li antes do 25 de Abril e o meu pai não me soube explicar o que era um comunista... :)))

    Também aqui só para nós: dificilmente a minha sogra seria uma das mulheres da minha vida! E não, nunca tive nenhum desentendimento com ela (ou, melhor dizendo, só um pequeno atrito aqui há mais de 15 anos), mas prefiro mulheres mais frontais e assumidas!

    Beijinhos!

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  3. Também li o que consegui apanhar de Simone de Beauvoir e por a admirar, quando tinha 18 anos escolhi filosofia como 3ª opção(depois mudei para direito) não me parece nada admirável foi a relação que teve com Sartre.

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  4. Mais mulheres de Janeiro:

    Isabel Cristina Basto, médica Isabel Pinto, fotógrafa
    Anabela Baldaque, criadora de moda
    Teresa Salgueiro, cantora, Catarina Paiva, activista
    Cindy Sherman, artista,
    Kiki Smith, artista
    Susan Sontag
    Agatha Christie
    Adelaide Cabete...

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