Teresa em Julho, ouvindo Gustav Mahler

À beira do choro, Teresa ouve Das Lied von der Erde
(A canção da terra). A angústia existencial que Mahler expressa nesta obra, ajuda-a a superar a sua própria angústia.
O compositor concebeu este ciclo de canções sinfónico em 1907, ano em que sofreu três golpes violentos: foi pressionado a abandonar o cargo de director da Ópera de Viena, por questões sociais e religiosas; Maria, a sua filha mais velha, adoeceu e acabou por morrer; descobriu que tinha um problema no coração e ficou convencido que tinha pouco tempo de vida.
Um amigo de Mahler, com o intento de o encorajar, ofereceu-lhe Die chinese Flote (A flauta chinesa), uma antologia de poesia chinesa antiga, traduzida para alemão por Hans Bethge. O compositor entusiasmou-se com a ideia de compor uma Sinfonia-Canção em seis andamentos:
O primeiro, Das Trinklied vom Jammer der Erde
(A canção-brinde às lamúrias da Terra) é uma canção que confronta a eternidade da Terra e o carácter efémero do homem neste planeta, concluindo que a melhor maneira de não pensar na sua efemeridade é através da bebida.
Sombria é a vida, sombria é a morte!
O segundo, Der Einsame im Herbst (O Solitário no Outono), descreve a Terra envolta numa névoa outonal, comparando a mente e a alma de uma pessoa solitária com a atmosfera do Outono.
O terceiro e o quarto andamento, Von der Jugend (Da Juventude) e Von der Schönheit (Da Beleza) retratam uma China antiga e imaginária.
Dentro de um pavilhão de verde e branca porcelana, jovens belamente vestidos bebem, conversam e alguns escrevem poemas.
Na paisagem campestre, onde a beleza, especialmente a humana, é ressaltada pela luz da natureza, a mais bela das raparigas olha apaixonada para um jovem.
O quinto, Der Trunkene im Frühling (O homem ébrio na Primavera), o eu poético encontra-se embriagado, vendo a vida como um mero sonho.
O sexto Der Abschied (A Despedida) é o maior andamento, reúnindo um dos tons mais sombrios e melancólicos desta obra, combinando dois poemas sobre a tristeza de deixar amigos para trás, tendo Gustav Mahler relacionando este abandono físico dos amigos com o tema da morte.
Mahler trabalhou nesta sua obra durante os últimos verões da sua vida, na sua casa no Sul do Tirol. Conseguiu concluí-la em 1911, pouco antes de morrer, com uma malformação cardíaca avançada. Porém, não chegou a ouvir a sua estréia em Munique, em Novembro de 1912, um ano e meio após a morte do compositor.
Foi a relação entre a vida e a morte, que o compositor interpretou na Lied von der Erde, todavia não como antítese, mas sim, como relação dialética entre o mortal e o eterno, entre a aceitação da morte e o renascimento de nova vida.
— Ah! Como é difícil aceitar a morte de um ente querido, pensa Teresa chorando, morremos um pouco cada vez que isso acontece.
Servus, Gernot, diz ela baixinho.

Kommentare

  1. Das Lied von der Erde está entre as obras musicais de todos os tempos que mais gosto, quer na versão original, quer na de Schönberg e está entre aquelas que mais frequentemente ouço

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  2. Não conheço a obra, Teresa, mas de música entendo muito pouco no geral: só costumo saber se gosto ou não!

    O desgosto com a morte de um ente querido é sempre grande, não há nada que o possa atenuar. Mas, na verdade, vivem sempre nas nossas lembranças...

    Beijinhos

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  3. Impossivel Teresa!
    Nao me diga que ainda tem o meu numero antigo! Peça à Eulalia que lhe dê o actual...
    A chegada da irmã/irmão da Ema deve estar para breve. De certo esse momento vai colorir a negritude destes dias.
    Eu, quando soube, fui apanhada de surpresa. Só tive tempo de derramar umas lágrimas e de lamentar não ter tido a possibilidade de partilhar mais com alguem tao rico como ser humanao.

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  4. Claro que sim, Teresa. Se eu fiquei abatida com a noticia, fará a Teresa que partilhou uma vida de amizade junto dele.

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