O BARCO VAZIO ~ Chuang Tse (XX,2)


Quem dirige os outros, acaba confuso.
E quem se deixa dirigir, vive triste.
O ideal é não desejarmos influenciar os outros
Nem nos deixarmos influenciar por eles.
E viver com o Tao, na terra do grande Vazio.

Mesmo que tenha muito mau feitio,
um homem que atravessa um rio num barco
não se zanga se um barco vazio colidir com o seu.
Mas, se nesse barco estiver alguém,
Vai-lhe gritar que vire o leme.
E gritará outra vez se o grito não for ouvido
E começará a praguejar.

Porque há alguém dentro do barco.
Se o barco estivesse vazio,
Não gritaria nem ficaria zangado.

Se conseguirmos esvaziar o nosso barco,
Ao atravessar o rio do mundo,
Ninguém se nos oporá.
Ninguém nos tentará fazer mal.

Kommentare

  1. Boa-noite Teresa

    É sempre com prazer que leio um autor oriental e taoísta, em primeiro lugar pela depuração da forma, depois por pensar que compreendo e verificar que não é verdade.

    Para um ocidental é difícil penetrar na forma de pensamento de um oriental e já estou a ser muito generalista, mas olhando para este poema, apenas do ponto de vista formal, encontro de imediato uma osmose natural entre ideia e imagem, temática e poética. A terra do grande Vazio e o barco vazio propõem o esvaziamento do ser, ou seja, a pureza da forma e a ausência de qualquer outra essência que não seja a da própria forma. Para penetrar no poema seria bom conhecer o taoísmo, de qualquer modo há uma divergência na perspectiva da alteridade, em que não existe qualquer reflexo do eu e do outro, tão impregnada na mente dos ocidentais.

    Esta é uma modesta opinião e tenho sempre receio de adulterar o sentido de um pensamento, sobretudo quando a sua raíz filosófica requer conhecimentos mais abalizados. Mas é sempre bom reflectir sobre o destino de um qualquer barqueiro, sobre o nosso próprio destino, quando ele colide com o que lhe é alheio e o pode esmagar, ou vice-versa:
    terra do grande Vazio é mais um anverso do que propriamente um inverso da forma de pensamento ocidental.

    Beijinhos cheios e sem vazios,
    Isabel

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  2. Como a Isabel diz: "Para um ocidental é difícil penetrar na forma de pensamento de um oriental", e é isso mesmo que acontece comigo - a minha mente é demasiado ocidental para compreender o taoísmo, e as músicas orientais em vez de me acalmarem deixam-me mais nervosa.
    Agora a Isabel pergunta, porque razao postei um poema com raízes taoístas, quando essa filosofia nada me diz.
    Bem, interpretei este poema à minha maneira ocidental ajustando-o à minha pessoa e àquilo que quero mudar na minha vida actual. Este "sentimento de vazio" é em todas as culturas o mesmo, mas cada um de nós o encara de maneira diferente.
    Todos os meus pensamentos giram neste momento em volta da Susan Rawlings, a protagonista da história de Doris Lessing "To Room Nineteen", que acabei de ler ontem.
    Vou falar, aqui, nessa história, e entao compreenderá o que estou a sentir...

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  3. Tão bom e importante o texto da postagem quanto o teu comentário! Eu também tenho dificuldade de assimilar, sou ocidental demais! Abraço

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  4. Bom-Dia Teresa

    Acordámos com o pássaro madrugador, estava a responder ao comentário deixado pela Teresa e afinal já lá estava. É muito difícil colocarmo-nos na mente de um oriental, seja ele de que religião for, qualquer que seja a sua postura filosófica. Depois há a considerar outros factores, como a paisagem, tão importante para a moldagem do pensamento.

    Também eu interpreto segundo as minhas próprias convicções e quem se sente, como eu, livre pensadora, este poema é providencial,sobretudo quando se tem um projecto de vida bem definido. É necessário sempre um esvaziamento para evitar a estagnação, que é o nosso pior inimigo.

    Vou tomar o pequeno almoço e volto.

    Beijinhos e até já,
    Isabel

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