Anselm Kiefer vence Prémio da Paz dos Livreiros Alemães

Anselm Kiefer, o primeiro artista plástico a ganhar o Prémio da Paz dos Livreiros Alemães, classificou hoje a literatura e a poesia como muito importantes para si.
O artista alemão de 63 anos, um homem amável, com um sentido de humor apurado e uma forma de falar lacónica e concisa, partilhou hoje, numa sessão realizada na Feira do Livro de Frankfurt, algumas reflexões sobre a sua obra, o significado que têm para si os livros e a poesia e definiu ainda o seu conceito de paz.
A sua obra plástica tem que ver com o livro, que nela surge em gigantescas esculturas de aço e em referências à Bíblia e a outros livros sagrados.
Alguém lhe pergunta qual a sua relação com a literatura, outra pessoa questiona-o sobre o que representam para ele os livros, e muitas vezes as perguntas são mais longas do que as respostas, segundo o repórter da agência Efe.
«A literatura - disse Kiefer - é muito importante para mim. Creio que a poesia é a única realidade da vida».
Depois, falou do livro como objecto material que o obceca desde criança.
«Lembro-me de uma coisa que me aconteceu com um dos primeiros livros que li. Tinha nove anos e depois de terminar o livro, olhei para a contracapa e vi que tinha sido impresso em 1942», recordou.
«Senti algo de estranho. Eu tinha nascido em 1945 e o livro tinha mais três anos que eu. Isso são os livros, uma coisa que nos liga a épocas em que não estávamos no mundo», observou.
Um homem de cerca de 60 anos pede a palavra para fazer uma pergunta, não sem antes proferir uma espécie de discurso contra a obra de Kiefer.
«Quando, na sua obra, há referências à Bíblia, diferencia-se dos autores sagrados pelo facto de não ter uma ligação com Deus. Na sua obra só há ruínas e a omnipotência da derrocada (...) Pode uma obra como a sua, cheia de ruínas, ser um contributo para a paz?», perguntou.
«Creio que você é a primeira pessoa que considera que na minha obra só há destruição. Eu não vejo as ruínas como algo negativo mas como um novo começo. Além disso, têm algo mágico e convidam à reflexão. Houve inclusivamente uma época, no século XIX, em que se construíam ruínas», respondeu Kiefer.
O homem insiste e diz ao artista plástico que ele, na sua obra, interpreta mal a Bíblia.
«A Bíblia, sobretudo o Velho Testamento, está tão cheia de contradições que creio que é impossível interpretá-la mal», respondeu, sorrindo.
Sobre a paz, diz ainda que esta «não é um estado permanente».
«Penso que se consigo reflectir [no meu trabalho] as minhas próprias contradições, estou a fazer algo pela paz», rematou.

No Diário Digital

Kommentare

  1. Muito bem..."Creio que a poesia é a única realidade da vida."
    Eu não sou assim tão linear,mas acho que é muito importante, saber pelo menos apreciar poesia e gostar dela, entendê-la, é como um quadro que não se define mas que tramsnsmite muitos sentimentos, muitas realidades.
    Verdade???
    Beijinhos

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