uma rosa, uma carta, dois cadáveres


Ben ama Lieselotte.
Lieselotte não ama Ben.


Ben olha outra vez o relógio do café e conclui que estava para ali sentado havia bem duas horas. 
Paga imediatamente a despesa, manda uma olhada ao relógio e sai. Na rua está um calor tremendo. O vento quente que começa a varrer-lhe a cara é melhor do que nada.
Anda devagar ao longo da avenida, contorna o edifício onde funciona o ministério das comunicações.
Leva vinte minutos a chegar à sua mansarda. 
Os estores estão corridos, pelo que a sala está parcialmente mergulhada na penumbra. 
Penumbra na sala, penumbra no seu coração.
De repente sente-se infeliz. Imensamente infeliz.
Ben resolve fazer as coisas à moda antiga e escrever a Lieselotte uma carta de despedida com caneta e papel, como noutros tempos.

Lieselotte entra no café um pouco mais tarde.
Leva na mão uma rosa vermelha.
Rompeu o noivado com Götz. O primeiro namorado, o primeiro beijo, a primeira experiência sexual...
Afinal, ama ou não ama Ben⁉ Sem saber a resposta, porque no ar pairava um enorme ponto de interrogação.
Sai para a rua, caminha calmamente até à mansarda de Ben. 
Ainda não conseguia vislumbrar qual era o seu papel no meio de tudo aquilo, ou os motivos que a tinham levado a agir deste modo. Mas, já que começara, o melhor era levar as coisas até ao fim. Só esperava que não fosse tudo demasiado complicado, e que esse fim não estivesse distante...
A porta está entreaberta. 
Dá mais uns passos silenciosos em frente, incomodada por um silêncio enervante e pelo cheiro acre de fumo que se espalhava pela sala. Adianta-se até perto da mesinha de bambú, onde se encontra uma carta. Abre com cuidado o envelope, Nesse instante, vê Ben caído sobre a alcatifa, do lado de cá do sofá, com o rosto lívido, um braço torcido entalado de baixo do corpo. Um fio de sangue escorria-lhe do ouvido. 
Lieselotte cai de joelhos soluçando. Debruça-se mais sobre o corpo frio de Ben, beijando-lhe a testa.
As suas mãos procuram o que está debaixo do corpo. Levanta-a lentamente mete-a na boca e puxa o gatilho.

Quando o comissário Allmen entra na sala, vê no chão _ uma rosa vermelha, uma carta e dois cadáveres.

Kommentare

  1. Os desencontros da vida são por vezes uma tragédia!

    Abraço

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. A pontualidade é uma qualidade de rainhas | reis‼
      Se Lieselotte não chegasse tão atrasada ao encontro com o Ben, não havia tragédia, não havia história‼

      Löschen
  2. Uma tragédia em desencontros do amor. Uns aguentam e partem para outros universos, outros deixam-se arrastar por um sentimento frio, diabólico, enfermo e mortal. Infelizmente ainda se morre por um amor não correspondido.

    Beijinhos

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. Quem se mata por amor 💔 nos nossos dias; tem uma tendência para o suicídio‼

      Beijos da amiga que ama a VIDA 💙

      Löschen
  3. Há desencontro sempre que se ama e não se é correspondido.
    Como diz a canção, eu acho que as mulheres que eu amei na vida e não me amaram, nunca se aperceberam verdadeiramente do homem por quem passaram! O que é certo é que me deixaram uma chaga viva no lugar do coração.
    Mas, e quantas mulheres na vida, me gritaram seu amor e nas horas de loucura, me chamaram de maior? E quantas mulheres na vida me pediram para ficar, deixando a porta aberta no caso de eu querer voltar?
    Em ambos os casos houve coisas lindas que se disseram ao ouvido... mas que se perderam como a onda contra o cais.

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. Céus, Joaquim Ramos‼
      Um comentário muitíssimo mais interessante do que a história 💕
      Tem talento para a escrita, não se nega isso‼

      Löschen
  4. E afinal? Qual era o teor da carta? O inspector não a leu, para averiguar a causa das mortes?
    E nós? Ficamos na ignorância?
    O tempo dos Amores de Perdição, não tinha passado à história?

    Parabéns ao autor/a desta história de um amor infeliz-foi por um triz que tudo não acabou bem...

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. A inspiração para esta história vem de um clássico‼ Não é, nem "O Amor de Perdição" nem "Romeo e Julieta"‼

      O teor da carta é fácil de entender: Ben não aceita que a mulher que ele ama vá casar com outro. Entretanto, Lieselotte rompe o noivado com Götz. Como se sente culpada pela morte de Ben, comete também suicídio.

      Acabar bem, depende da perspectiva‼

      Löschen
    2. Esse tal clássico será,por acaso, "Suicídio" ?

      Seja qual for a perspectiva, tudo o que termine com mortes, não poder dizer-se que tenha acabado bem, acho eu...:)

      Löschen
    3. É um clássico da literatura alemã!!

      Não conheço nenhum clássico com o título "Suicídio"!!!

      Löschen
    4. “Suicídio” é um clássico escrito, creio que no século XIX, pelo sociólogo Francês Émile Durkheim acerca da relação entre os suicidas e a sociedade em que se inserem.

      Não é propriamente um policial...porém, poderia perfeitamente ter servido de inspiração.

      Löschen
    5. Tenho vários livros de David Émile Durkheim, mas não tenho o "Suicídio". O clássico em questão é de Johann Wolfgang von Goethe.

      Löschen
  5. Bolas! Deu-lhe mesmo a matar. Já matou os dois, como é que vai continuar o folhetim....:)
    Boa Noite

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. Quando as personagens da história morrem, não há mais nada a dizer!!!!

      Löschen
  6. Gostei do texto
    O amor sempre a fazer das suas
    Bjs

    Kique

    Hoje em Caminhos Percorridos - DIA RUIM NO TRABALHO

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. É bem melhor morrer de amor 💓 do que trabalhar no departamento de controle de qualidade dos termómetros retais da firma Johnson & Johnson ❗❗❗

      Löschen
  7. Não sei se se pode dizer que a história é negra... mas que é triste, isso sem dúvida!
    Apesar de ser triste eu gostei.

    (só um pequenino reparo sem importância... mas que, para quem como eu é fã de Sherlock Holmes, dará por certo conta: se a Lotte chega ao café pouco depois dele ter saído, o espaço temporal do desencontro não dá tempo para ela encontrar o corpo de Ben já frio)

    Fico à espera de novas histórias.
    Beijinhos e parabéns ��

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. Uma rosa 🌹 que tentação‼

      Löschen
    2. Sherlock Holmes era médico e sabia quando o cadáver começa a ficar rígido e frio. Afinal, escrever histórias policiais não é a minha praia, porque me faltam os devidos conhecimentos.

      Löschen
  8. Há desencontros que acabam por ditar a nossa sentença!
    Aguardo continuação, porque este começo tem imenso potencial :)

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. Para a próxima vez, vou escrever sobre o famoso romance, que foi o ponto de partida desta história de amor 💓 desencontrado‼

      Löschen
  9. Mau Maria, então não era para ser assim uma coisa em episódios? Mal começou e já quer terminar; repito, ora bolas

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. Está bem, eu compreendo‼
      A bea lambeu sangue nesta história de cordel e quer mais‼
      Em breve, vou contar as aventuras e desventuras do comissário Allmen, que ficou tão impressionado com os dois cadáveres, que abandonou a polícia, e agora é, ladrão de objectos de arte❗❗❗

      Löschen
    2. O polícia virou ladrão? Isso é que é um verdadeiro "volte-face"!
      Abençoada imaginação Teresa!!
      Estou com a Bea, também fico à espera de mais episódios.

      Beijinhos às duas
      (^^)

      Löschen
    3. A minha imaginação é colossal.
      O problema é, que escrevo português como uma vaca alemã 🐄

      Beijos brincalhões 💛

      Löschen
  10. Ah, ah, ah. Continua a matar hipóteses. Mas pronto, tenho esperança que na nova vida do ex comissário haja algum suspense. Não gosto de lamber sangue, eu é mais açúcar: caramelo com natas a decorar um bolo, sorvete, molho espesso feito com morangos de verdade e varinha mágica sobre um pudim de morango e tudo bem fresquinho, e mais que não me lembro. Na falta disto: beber água. Não é bem a mesma coisa mas dá para os gastos.
    E agora, se a Teresa me dá licença, tenho de ir fazer uma visitinha. Até logo ou quando calhe passar de novo nesta sua janela aberta às visitas. Com licença

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. Há sempre um certo suspense, quando se contempla uma obra de arte. O roubo de um quadro pouco conhecido de Gustav Klimt é o ponto de partida para a história com o título "Allmen e o erotismo".

      Löschen
  11. Aproveitei a Bea ter deixado a porta entreaberta para entrar de novo no seu aposento. Já retiraram os cadáveres e o comissário deve ter ido falar com o médico legista para lhe apressar o relatório da autópsia. O quarto pareceu-me vazio. Mas será que estava? Poderei confiar nos meus próprios sentidos?
    Como dizia Oscar Wilde, é a incerteza que nos fascina; tudo é maravilhoso entre brumas.

    AntwortenLöschen
    Antworten
    1. É isso mesmo: é a incerteza que nos fascina; tudo é maravilhoso entre brumas. Sou uma grande admiradora de Oscar Wilde. Visitei o túmulo do escritor no cemitério parisiense Père Lachaise 💮

      Löschen

Kommentar veröffentlichen

Beliebte Posts aus diesem Blog

Tudo menos plano!