AL MADA NADA


Fernando Pessoa e heterónimos são despejados do seu “escritório vasto”, subitamente invadido por magalas com bivaque e polainas de brim, saídos da escrita percutida de Almada Negreiros. Numa altura em que se comemora o centenário de Orpheu, al mada nada regressa ao palco do TNSJ, um ano após o avassalador êxito desse lado b que Ricardo Pais projetou para o quintessencial Turismo Infinito. Se o espetáculo criado sobre textos de Pessoa figurava uma mente plural, al mada nada celebra a sensualidade, a cor, o movimento, coisas que Almada viveu apaixonadamente. Partindo sobretudo de Saltimbancos (1917) – texto único da nossa literatura, obsessivamente físico e sexual –, a criação de Ricardo Pais põe a girar, au ralenti ou em altíssima rotação, um caleidoscópio português em que se imbricam um quartel e um circo indigente, homens-cavalo, arraiais de verão, dramas de namorados, memórias de uma semi-imaginária Emissora Nacional, um sol a pique e um luar de acetileno… Contrastes simultâneos a que o ator Pedro Almendra, o percussionista Rui Silva e a Momentum Crew – um grupo de b-boys premiado internacionalmente – dão corpo, fazendo do palco uma arena de combate, mas também o lugar de um inesperado recolhimento.

Um espectáculo diferente.
Um espectáculo a não perder.

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