O AMANTE


Tenho ainda a dizer-vos que tenho quinze anos e meio.
É a passagem de uma barcaça no Mékong.
A imagem dura toda a travessia do rio.
Tenho quinze anos e meio e não há estações neste país, estamos numa estação única, quente, monótona, estamos 
na longa zona quente da terra, não há Primavera, não há renovações.

0 Amante é o relato soberbo, exótico, perverso de uma paixão na adolescência inquieta de Marguerite Duras. 
Trata-se ainda, do despertar da sexualidade feminina.

Quem não gostaria de ter, como primeiro amante, um milionário e um mestre do amor? 

Anos depois da guerra, depois dos casamentos, dos filhos, dos divórcios, dos livros, ele veio a Paris com a mulher. Telefonara-lhe. Sou eu. Ela reconhecera-o logo pela voz. 
Ele dissera: queria só ouvir a sua voz. Ela dissera: sou eu, bom dia. Ele estava intimidado, tinha medo como dantes.
A sua voz tremia de repente. E com o tremor, de repente, ela voltara a encontrar a pronúncia da China. Ele sabia que ela tinha começado a escrever livros, soubera-o pela mãe dela que voltara a ver em Saigão. E depois dissera-lho. Dissera-lhe que era como dantes, que ainda a amava, que nunca poderia deixar de a amar, que a amaria até à morte. 
Marguerite Duras em 1984 ganhou o prémio Goncourt com o seu livro O Amante. 
Exactamente no ano em que fez 70 anos.
Exactamente no ano em que, desesperada, estivera à beira do suicídio.

Kommentare

  1. De facto, a beleza humana é ilimitada...

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    1. Era lindo o rosto da Marguerite Duras, despido dos canais que os anos nele iriam cavar: um rosto devastado.

      Seja como for, camada Rogério, o discurso imaginativo da mulher é ilimitado!

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  2. Gostei muito do livro e do filme!

    Abraço

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    1. Marguerite Duras retirou-se do projecto, porque considerou a adaptação cinematográfica do livro autobiográfico uma fraude, surgindo com uma nova versão das suas recordações juvenis, "O amante da China do Norte", que o realizador francês Jean-Jacques Annaud não aceitou.

      Tens que concordar, Rosa dos Ventos, que a novela é mais deslumbrante e subtil do que o filme embora que eu tenha gostado das excelentes interpretações de Jane March e Tony Leung.

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  3. Repito - gostei imenso do filme.
    Os cenários são excelentes, a sensualidade sempre presente.
    Boa semana!

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  4. A primeira vez que vi o filme não gostei tanto, ainda influenciada pela recusa de Marguerite Duras pela adaptação cinematográfica do realizador francês.

    Desta vez também eu gostei imenso.
    Nunca como neste filme o espectador de cinema goza o prazer de olhar para as cenas de amor sempre presentes, sempre poéticas.

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  5. ~ Percebem-se que se perdem nuances psicológicas, e há uma intenção de intensificar o aspeto erótico da história, mas é um filme marcante, pela reconstituição histórica, pela definição psicológica das personagens e pelo rigoroso sentido de apatia que determina o caráter de pessoas vencidas pela falta de sorte e limitações económicas. ~

    ~ ~ ~ ~ Um dia muito agradável. ~ ~ ~ ~

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    1. Excelente a tua explicação, Majo!

      Também te desejo um dia muito agradável.
      A minha noite vai ser muito agradável, vou ao teatro.

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  6. Uma cena e uma música fantásticas.
    Um "senão" : a idade da miúda ! :((
    .

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    1. Uma das mais belas cenas do filme, que acabo de publicar no post, e uma bela canção.
      Muitíssimo obrigada, Rui!

      A verdadeira razão, porque não gostei do filme, a primeira vez que o vi, foi a idade da miúda, porque pensei logo nas minhas filhas.

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