DEUS EX MACHINA


Atenas. Cerca do ano 500 a.C. 
Dois gregos meditabundos no centro de um anfiteatro vazio.
Crepúsculo.
Um é o ACTOR; o outro, o ESCRITOR.
Estão ambos pensativos e desconcertados a discutir o final da peça que vai estrear dentro de três dias. 
  
VOZ DE WOODY: Sim?
ACTOR: Senhor Allen?
WOODY: Sim?
ACTOR: Sou Diabetes.
WOODY: Quem?
ACTOR: Diabetes. Uma personagem criada por si.
WOODY: Ah, sim... Já me lembro, é uma personagem mal concebida... demasiado de uma peça.
ACTOR: Obrigado.
WOODY: Ouça... não estão já a representar a peça?
ACTOR: É por isso que lhe telefonei. Há uma rapariga desconhecida no palco que não se vai embora e Hepatite começou logo a aquecer com ela.
WOODY: Que aspecto tem?
ACTOR: É bonita, mas não faz parte da peça.
WOODY: Loura?
ACTOR: Morena... de cabelo comprido.
WOODY: Pernas bonitas?
ACTOR: Sim.
WOODY: Mamas boas?
ACTOR: Colossais.
WOODY: Não a deixem sair daí. Vou a caminho.
ACTOR: É estudante de filosofia. Mas não tem resposta para nada... um produto típico da cafetaria da Universidade de Brooklyn.
WOODY: É engraçado: utilizei essa frase em Play It Again, Sam para descrever uma rapariga.  
ACTOR: Espero que tivesse feito as pessoas rir mais.
WOODY: Chame-a.
ACTOR: Ao telefone?
WOODY: Claro.
ACTOR (para Doris): É para ti.
DORIS (sussurra): Vi-o no cinema. Não quero falar com ele.
ACTOR: É o autor da peça.
DORIS: É pretensiosa.
ACTOR (ao telefone): Diz que não quer falar consigo. E que a peça é pretensiosa.
WOODY: Bolas. Está bem, volte a telefonar para me dizer como acaba a peça.
ACTOR: De acordo. (Desliga e depois coça a cabeça duas vezes ao dar-se conta daquilo que o autor acabara de dizer.)

DEUS é uma peça de teatro escrita por WOODY ALLEN em 1975, à qual assisti esta noite num dos teatros mais carismáticos de NRW — Theater an der Ruhr fundado pelo realizador italiano Roberto Ciulli.

Kommentare

  1. ~ Presumo que te estás referindo ao filme, " Poderosa Afrodite", em que a queda de um simpático helicóptero, determina um final feliz.. Não vi o filme..

    ~ O autor da Antiguidade, deverá ser Eurípedes, um homem de tragédias.

    ~ Tragédia está a viver o ator, Woody Allen e bem precisava de um final feliz, "Deus ex machina", para a sua vida pessoal.~

    ~ ~ ~ Um final feliz para todos os teus sonhos e projetos. ~ ~ ~

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    1. Não, não me estou a referir ao filme "Poderosa Afrodite".
      "Deus" é uma peça de um acto que Woody Allen escreveu em 1975.

      Vi esta peça hilariante em Düsseldorf já lá vão alguns anos.
      Ontem vi-a num dos meus teatros preferidos: Theater an der Ruhr.

      Oscilando entre o teatro do absurdo e o teatro grego, esta peça obriga-nos a rir e a pensar sobre a culpa, o sexo, o que estamos a fazer neste mundo, qual o papel do artista na sociedade e outras neuroses características de Woody Allen.

      Também eu desejo que os meus sonhos e projectos tenham um final feliz e não sejam estrangulados como o DEUS EX MACHINA.

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  2. ~ Estás a fazer uma enorme confusão! Um final à "" Deus ex machine"", não tem que ser mau, como é o caso do final do filme " Poderosa Afrodite", que foi um final feliz.~

    ~ Penso que tens de inforrmar-te melhor. ~

    ~ ~ ~ ~ ~ ~ Um ótimo Domingo. ~ ~ ~ ~ ~ ~

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    1. Majo esquece o filme, porque "Poderosa Afrodite" nada tem a ver com a peça de teatro "Deus". O filme é de 1997 e a peça foi escrita em 1975.

      Na peça de teatro ZEUS/DEUS desce desajeitadamente e esperneia até que percebemos que a corda que o suspende o está a estrangular.
      A máquina não funcionou como devia ser e saltou dos carris.
      Por fim Deus chegou, mas definitivamente morto.

      Um final absurdo? Mas o que é o absurdo?

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    2. ~ Continuo a perceber que ainda não entendeste o que é um final à "Deus ex machine".
      Independemente de quaquer que seja o filme, teatro ou qualquer representação e do género: comédia. drama, tragédia...
      O teatro que referes, é só um caso...
      ~ Há informação na net e é interessante. Vale o esforço.
      ~ ~ ~ Abraço. ~ ~ ~

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    3. A peça de Woody Allen é uma paródia ao teatro grego.

      Enquanto que no teatro grego as peças terminavam com um "Deus ex machina" que vinha por um guindaste até o local da encenação desemaranhar a história, O DEUS EX MACHINA do Woody chega definitivamente MORTO!!!
      Aí é que está a piada da peça e a genialidade do autor.

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  3. Realmente , não consigo apreciar Allen.

    Admito que seja defeito meu, mas ... nada a fazer.

    Bom domingo

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    1. Ou se ama ou se odeia o Woody Allen!!!

      Não é defeito teu, São!

      Na sexta-feira fui ver DEUS com uma familiar alemã, que não gostou nada da peça: ela queria um DEUS EX MACHINA como nas peças gregas; enquanto que eu já vi esta peça duas vezes; acho um DEUS MORTO baseado na filosofia de Nietzsche muito mais interessante e actual.

      Em resumo: cada um gosta do que e de quem quer.

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  4. A genialidade é sempre uma fonte de controvérsias ! ... Assim como o próprio "absurdo"!

    Bom Domingo, Té :))

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    1. Gostar de génios é também muitas vezes fonte de controvérsias!

      Neste caso, nem me estou a referir ao Woody Allen.

      Absurdo é não aceitar os gostos dos outros, mesmo que sejam diferentes dos nossos.

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  5. Woody Allen e teatro?
    Nã.....
    Boa semana!!

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