Albert Camus — O Autor e sua Obra


Na manhã do dia 16 de abril, o Dr. Bernard Rieux saiu do consultório e tropeçou num rato morto, no meio do patamar. No momento, afastou o bicho sem prestar atenção e desceu a escada. Ao chegar à rua, porém, veio-lhe a ideia de que esse rato não estava no lugar devido e voltou para avisar o porteiro. Diante da reação do velho Michel sentiu melhor o que sua descoberta tinha de insólito. A presença desse rato morto parecera-lhe apenas estranha, enquanto para o porteiro constituía um escândalo. A posição deste último era aliás categórica: não havia ratos na casa. Por mais que o médico lhe garantisse que havia um no patamar do  primeiro andar, provavelmente morto, a convicção de Michel permanecia firme. Não havia ratos na casa, e era necessário que tivessem trazido este de fora. Em resumo, tratava-se de uma brincadeira.

Nessa mesma noite, Bernard Rieux, de pé no corredor do prédio, procurava as chaves antes de subir para a sua casa, quando viu surgir, do fundo obscuro do corredor, um rato enorme, de passo incerto e pêlo molhado. O animal parou, pareceu procurar o equilíbrio, correu em direcção ao médico, parou de novo, deu uma cambalhota com um pequeno guincho e parou, por fim, lançando sangue pela boca entreaberta. O médico contemplou-o por um momento e subiu.”

Kommentare

  1. Ainda não li, se bem que o tenha em casa há anos! Só li O Estrangeiro.

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    1. Tinha uns 17 anos, quando o li pela primeira vez em português.

      Ontem comecei a lê-lo em alemão, porque foi o livro escolhido para o próximo encontro do Círculo Literário.

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  2. Fantástica descrição da peste !!!
    Este é dos tais, que uma vez começado a ler, não nos conseguimos desprender da leitura, até :
    "o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada. E sabia, também, que viria talvez o
    dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz."

    Beijo, Té ! :))
    .

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    1. Albert Camus fala-nos de coisas incómodas, Rui, mas uma vez começado a ler, não nos conseguimos desprender da leitura, até às 4 da manhã!

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    2. Eu sei Teresa ! :)) Comecei a ler e fiquei "preso" ! :)))
      http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/clubedeleituras/upload/e_livros/clle000026.pdf

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    3. Muito obrigada pela informação, Rui!

      Estive toda a tarde a ler a tradução na língua brasileira, mas confesso, que não gostei, no entanto, vou continuar a lê-la até ao fim.

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  3. Reli há relativamente pouco tempo "O Estrangeiro", também tenho que reler "A Peste"...
    Tenho tantos na lista de espera...

    Abraço

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    1. "Que necessidade tenho de falar de Dionísio para falar do gosto que tenho em esmagar as sementes de lentisco perto do nariz?”

      Ler Albert Camus é compreender o que perdemos quando o esquecemos.

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  4. Sabes aquele livro que nunca leste, por digamos solidaridade? Pois este é um deles: lembro-me de ser leitura obrigatória no liceu a francês e as minhas colegas que tinham francês achavam o livro horroroso. Como eu tinha escolhido alemão e não era obrigada a lê-lo, nunca o li... :)

    Um dia destes ainda tenho de ler Camus! :D

    KuB

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    1. Solidaridade com a minha amiga Beatriz foi o meu motivo para ler Albert Camus, Teté!
      Vou explicar isso aqui nos próximos dias, porque esta semana está sob o signo do Nobel de 1957.

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  5. Antworten
    1. Albert Camus é um escritor para o nosso tempo, Pedro!

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