A Mediocridade Flagrante de António José Seguro

É estimado que cerca de oitenta por cento da matéria do Universo é constituída por matéria negra. Este facto é particularmente estonteante se considerarmos que a própria existência da matéria negra é apenas uma hipótese. Não sabemos muito sobre este elemento abundante. Nem sequer sabemos exactamente o que é. Não é possível observá-la directamente através de telescópios. A veracidade da sua existência é passível a ser deduzida devido aos seus efeitos gravitacionais em objectos observáveis.

As incertezas sobre os fenómenos físicos do Universo abundam, mas nenhum deles me perturba tanto quanto a hipótese da existência de António José Seguro. Existe uma ideia de um António José Seguro. Uma construção socio-metafísica. Assim como a matéria negra, não é possível observá-lo ou ouvi-lo directamente. Apenas existem indícios secundários da sua existência. É possível inferir logicamente que ele existe devido aos seus efeitos nocivos na massa encefálica do homo sapiens.

Analogias mirabolantes à parte, desde que António José Seguro tomou as funções de líder da oposição, ainda não foi possível vislumbrar quaisquer sinais de vida no Partido Socialista. A oposição racional desapareceu. Não que eu tivesse esperanças ou desejos que isso pudesse ocorrer. Como regra geral, sou da opinião de que nada de bom pode advir de um partido nominalmente socialista. Mas sabemos que a situação é excepcionalmente grave quando o partido é liderado por um par de óculos que flutuam no vazio demagógico da esquerda.

A verdade é que eu até consigo ver António José Seguro nitidamente. Eu consigo ver a sua casca, o fato e a gravata. Eu ouço discursos ensaiados e soundbytes assessorados. É notório que alguém labutou como um condenado para compor este golem político. Está tudo lá. A cara solidária. Os óculos da seriedade. A gesticulação revoltada. O tom de voz indignado. Ele está em todo lado. Na televisão, a espalhar esperança contrafeita. Na rádio, a espalhar indignação oca. No Facebook, a induzir o vómito com a sua carta juvenil.

António José Seguro emite todos os sinais de alguém que não sabe do que está a falar, não entende o que está a ouvir e não sabe o que vai fazer. Ouvimos algumas ideias vagas de crescimento contra a austeridade e optimismo contra a realidade. Não é suficiente. Ele devia ter continuado na obscuridade conveniente das entranhas da máquina partidária socialista. Aí, no atoleiro ideológico da esquerda portuguesa, o seu ar secretarial teria uma utilidade ou, pelo menos, estaria longe das câmeras, gravadores e canetas.

O que é triste é que alguém com a aparência de António José Seguro tinha a obrigação de contrariar as expectativas criadas pela sua aura de bibliotecário-contabilista. Ele não só ignora esse imperativo, como reforça todas as associações enfadonhas que a sua aparência suscita. E aqui estamos nós. No norte, à distância, avistamos o início do precipício da catástrofe financeira. No sul, somos empurrados para o buraco pela prata da casa partidária.

As últimas sondagens indicam que o Partido Socialista lidera as intenções de voto. O homem que, há apenas um ano e meio, defendeu e apoiou José Sócrates, agora culpa o Governo por não conseguir resolver todo o imbróglio financeiro português durante esse período. Juntamente com a frustração e a ira proveniente da austeridade, a utilização da mistura explosiva de óculos e demagogia pode ter funcionado com o eleitorado mas, infelizmente para o Zé, não são um substituto adequado para uma personalidade.

A incerteza criada por esta crise não permite especulações de grande clarividência. Mas entre o vácuo humano de António José Seguro, o vácuo moral de Miguel Relvas e o vácuo testicular de Pedro Passos Coelho, tenho a certeza que uma solução irá aparecer. Poderá não ser eficaz. Poderá não ser competente. Mas podemos concordar que, para o espectador lúdico da política portuguesa, pelo menos será interessante.


Leandro Silva

O blogue do autor:  O Banquete

Kommentare

  1. Bestial!
    Uma lúcida análise acerca do jovem mais velho de Portugal :)))

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    1. É preciso uma lúcida análise acerca da situação política portuguesa, porque ânimos exaltados não levam a coisa nenhuma.

      O artigo é sem dúvida bestial, mas o que mais me impressionou foi o autor ser um jovem.

      Tenho esperanças que a nova geração portuguesa tenha uma cabeça lúcida para resolver os problemas do país; o futuro de Portugal está nas mãos dessa mesma geração.

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  2. Seguro está para o PS cpmo Passos para o PSD!


    Mas vim aqui para lhe dizer que gostei muito do comentário escrito na Teté acerca do islamismo.

    Desejo-lhe um excelente dia.

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    1. Bem-vinda, São!

      Infelizmente, o Seguro e o Coelho são irmãos gémeos, mas eu queria um Partido Socialista forte. Caso o Seguro continue como líder do PS, o PDS ganha as eleições em 2013.

      A minha verdadeira luta política é que todas as mulheres tenham as mesmas oportunidades na vida, mas essa luta é muito mais árdua e violenta do que a luta dos partidos.

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  3. Concordo com a São: o Seguro está para o PS assim como Passos para o PSD! Agora até o Passos passou a usar óculos, certamente ideia de algum assessor de imagem, para lhe conferir um ar mais sério...

    Independentemente de serem os dois farinha do mesmo saco, não concordo com as linhas gerais do texto, apostado em sublinhar o "atoleiro ideológico" e "demagógico" da esquerda. Há alguma demagogia desta? Pois há! Mas sempre é preferível a gente de direita que só se move a cifrões. No caso destes, com uma vertente a raiar o criminoso de compadrios e trocas de favores, para calar "segredos" descobertos pela polícia secreta. Poderia ser pior?

    Abraço!

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    1. O meu coração continua a bater pela Esquerda, Teté, mas as desilusões têm sido muitas, e a corrupção não escolhe partidos, olha só para o "julgamento do século" no Brasil.

      O artigo do Leandro, um jovem jornalista e autor, está muito bem escrito, e é a voz de uma geração nova, a geração futura, sem as ideologias baratas da minha geração.

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  4. Seguramente que haverá solução para Portugal, malgré quem nos tem saído em rifa!

    Abraço

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    1. Minha cara Rosa dos Ventos, o governo português não vos saíu em rifa nenhuma, foi o povo português que o escolheu e votou nele em eleições livres.

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