ESTRANGEIROS

É uma dança-pensamento a que Né Barros vem produzindo nos últimos anos, ao refletir sobre tópicos candentes do nosso presente: a paisagem, a fronteira, a deslocação, a viagem. Aos corpos que habitam este território coreográfico a criadora chamou “movimentantes”. Desta vez, são estrangeiros. Um termo ambíguo, de inquietantes ressonâncias existenciais (por aqui, passa a sombra de O Estrangeiro de Albert Camus), que designa tanto aquele que se encontra num país que não é o seu, como aquele que transporta uma estranheza, que não pertence a um espaço, tempo ou grupo. Estrangeiros é também, do ponto de vista disciplinar, uma criação apátrida: com música ao vivo de Alexandre Soares (habitual companheiro de estrada da coreógrafa) e Jorge Queijo, o espetáculo adquire a espaços contornos de concerto, perfazendo um arco musical que vai do hard rock à filigrana sonora da guitarra portuguesa. Contudo, no centro deste lugar estranho está o corpo pensante-dançante, capaz de interagir com a velha máquina cénica e com a nova antimatéria digital.

Kommentare