O fim da festa

Teresa Hoffbauer

A Páscoa é muito mais do que coelhinhos, chocolates e ovos coloridos, são dias de reunir a família, confraternizar e de dar o famoso Passeio de Páscoa

Descoalharam-se os rios e ribeiros.
Bem haja a primavera! Já nos viça
por todas essas veigas esperança.
O inverno, já caduco, aí vai buscando
refúgio pelas serras. Pobre inverno!
ver como ainda está baldando raivas
por se vingar da fuga! e nós a rirmos
dos tiros mortos, que de lá nos lança,
granizo imbele, que realça os verdes,
mal que um raio de sol os desmortalha.
Por toda a parte desabrolham vidas.
Que folgazão que é o sol! Como se alegra
de entrajar de matiz a natureza!
Como inda por aqui lhe minguam flores,
supre-as com tanta gente pintalgada.
Vira-te para trás! Desta eminência
olha para a cidade; o formigueiro,
que do escuro da porta vem surdindo!
Não há quem neste dia não cobice
vir ao campo assoalhar-se. Este alvoroço
co’o ressurgir de Cristo, é clara mostra
de outra ressurreição em todos eles.
– Da casa-sepultura, – das canseiras
da oficina ou do trato; – da estreiteza
dessas vielas, que apelidam ruas,
– do soturno dos templos, – é o instinto
quem os promove à luz. Vê com que anseio
se atira a turbamulta ao campo, às quintas!
Que barcadas de gente jubilosa
sobem, descem, transpõem a movediça
veia do rio! Vê-me aquele bote
além, além, o último; de cheio
já mete a borda na água; até as sendas
dos montes lá ao longe estão querendo
quebrar-nos olhos co’as garridas cores
do gentio que as peja. Já cá chega
o estrondear da aldeia. O céu do povo,
se há céu do povo, é isto; o rapazio,
os homens feitos, tudo grita, salta,
ri, tripudia. Aqui me sinto eu homem,
e me é dado que o seja.

O Passeio de Páscoa é o verso mais famoso de Fausto I — Uma tragédia — de Johann Wolfgang von Goethe.
É um hino à natureza e à vida que desperta depois de um longo e triste inverno. O verde da natureza acorda nas pessoas o desejo de sair das suas casas em busca do ar puro — passeando longamente através da atmosfera primaveril.
No Domingo de Páscoa também Fausto resolve sair do seu quarto acompanhado pelo seu discípulo Wagner, misturando-se com o povo, que o recebe com cordialidade e respeito. Há um raio de esperança em Fausto quando exclama:
"Aqui sou homem, aqui o posso ser".

Kommentare

  1. Lindo! é claro que já li o Faustus, mas não me lembrava desse excerto em particular.
    Sobretudo, mostra um tempo antigo, em que as pessoas conheciam as plantas, em que não havia muitos divertimentos... vou partilhar.

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  2. Mas agora reparo: o blog não tem a opção Partilhar no Kacebook.

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  3. A segunda-feira de Páscoa é o dia que sucede o domingo de Páscoa, sendo considerado feriado em numerosos países de todo o mundo. Nas Igrejas orientais e na Igreja Ortodoxa, este dia é conhecido como "Segunda-feira do Brilho" ou "Segunda-feira da Renovação"

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  4. Por aqui não é feriado, mas há tolerância de ponto em Macau e Hong Kong.
    Boa semana!!

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