O sono
O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Espero que não tenha sido o nosso diálogo cibernético a dar-lhe sono :))
AntwortenLöschenBjs e bfds
Há uns anos, quando estava ainda em Lisboa, passei uma noite numa clínica do sono.
AntwortenLöschenSensores espalhados pelo corpo todo, para registarem e estudarem como funciona o sono de um alentejano típico...
Devem ter saído uns gráficos de linhas direitas horizontais...
:-)
O nosso diálogo cibernético teve lugar às 4 horas da manhã daqui, meu caro Pedro, não admira que me tenha dado o sono.
AntwortenLöschenUma amiga minha também passou uma noite numa clínica do sono em Wuppertal e, como não é alentejana, os gráficos não saíram de linhas direitas horizontais. Não deu resultado e ela continua a sofrer de insónia.
AntwortenLöschenA insónia consiste em dormir ao contrário.
AntwortenLöschenGrande Fernando :)
AntwortenLöschenÉ a astenia primaveril a funcionar.
AntwortenLöschenPS: Já respondi ao seu comentário sobre a mulher do metro :-)
Hoje ouvi na rádio que se comemorava o dia mundial do sono, fui pesquisar na net e uns diziam que era a 16 março, outros a 17 e ainda uns que era a 21...
AntwortenLöschenNão interessa...quando temos sono o melhor é dormir.
Gostei do sono de Fernando Pessoa :)
Beijinho e bom óó :)
E o que sinto é sobretudo cansaço!
AntwortenLöschenÀs vezes apetece mesmo adormecer e acordar daqui por uns meses...mas naturalmente, uma espécie de hibernação! :-))
Abraço