Uma página de Dickens

Coketown era uma cidade de tijolos vermelhos, ou antes, de tijolos que teriam sido vermelhos se o fumo e as cinzas o tivessem permitido; mas nas circunstâncias, era uma cidade de um vermelho e de um negro contra a natureza, tal a face pintada de um selvagem. Era uma cidade de máquinas e de altas chaminés de onde se escapavam incansavelmente, eternamente, serpentes de fumo que não se desenrolavam nunca completamente.
Tinha um canal negro e uma ribeira que rolava as suas águas emporcalhadas de tintas fedorentas e de vastas construções crivadas de janelas que vibravam e tremiam todo o dia e onde o êmbolo das máquinas a vapor subia e descia monotonamente como cabeça de um elefante louco de melancolia. Contava várias largas todas muito semelhantes umas às outras em que todos entravam e saíam às mesmas horas, caminhando no mesmo passo pelo mesmo passeio, para ir fazer o mesmo tabalho, para quem todos os dias eram semelhantes à véspera e ao dia seguinte, para quem cada ano era igual ao anterior e ao seguinte.

Charles Dickens
Tempos Difíceis

Kommentare

  1. Já tinha feito um comentário mas aparecia outra imagem, a que vem no Google hoje e nenhum texto!
    Este escritor foi o segundo estrangeiro com o qual tive contacto ainda na infância a seguir à Condessa de Ségur, depois foi Júlio Verne! :-))
    Ainda hoje gosto da sua escrita!

    Abraço

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  2. Ninguém retratou a Inglaterra negra, da Revolução Industrial, como Dickens.

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  3. Dickens é um "must read"! Não li muitos livros dele, talvez uns 5 ou coisa, mas, embora retrate uma Inglaterra de outras eras, a sua escrita é intemporal... :)

    Aí está um homem que 200 anos após o seu nascimento todos conhecem, pelas melhores razões! :D

    Beijocas!

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  4. João Botelho realizou, baseado na obra homónima de Dickens, Hard Times, for these Times (1854), o filme Tempos Difíceis, este tempo (1988), com música de António Pinho Vargas e a participação, entre outros, de Henrique Viana, Julia Britton, Eunice Muñoz, Ruy Furtado e Isabel de Castro.

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  5. E, 200 anos depois, continuamos a lê-lo com o mesmo prazer.
    A isso chama-se génio

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