A noite pôs-se glacial, o céu coalhou-se de estrelas, e no pequeno largozinho arde já a grande fogueira que enche tudo em volta de luzes fantasmagóricas. Espreita-se pela janela, porque o frio é de cortar os ossos, e dentro, nas lareiras, arde um fogo bom de torgas e pinhas. A ceia não tarda, e entretanto bebe-se um cálice de vinho fino, para mais atiçar o apetite. Sentados à grande mesa, todos riem e galhofam, mas eis que chega o esperado e fiel amigo , e faz-se então o silêncio das grandes ocasiões. Enchem-se os pratos desta delícia e é uma refeição inteira, que para ser a preceito apenas se completa com os doces tradicionais desse dia e as frutas secas que também é de uso petiscar — os figos, as passas de uva, as peras e as ameixas, a noz e a avelã, a amêndoa e o pinhão —, depois do vinho de mesa, fazem boca para os vinhos mais apaladados, que no Alto Douro são de se lhe tirar o chapéu. A ementa assim concebida, sem fugir ao conceito do dia de jejum, eis o que nesta noite reúne em t