Ouvimos dizer que estás cansado Bertolt Brecht

Ouvimos dizer que estás cansado
Ouvimos dizer que estás arrasado.
Que já não podes andar de cá para lá.
Que estás muito cansado.
Que já não és capaz de aprender.
Que estás liquidado.
Não se pode exigir de ti que faças mais
Pois fica sabendo: nós exigimo-lo.
Se estiveres cansado e adormeceres
ninguém te acordará, nem
dirá: levanta-te, está aqui a comida.
Porque é que a comida havia de estar ali?
Se não podes andar de cá para lá, ficarás estendido.
Ninguém te irá buscar e dizer : houve uma Revolução.
As fábricas esperam por ti.
Porque é que havia de haver uma Revolução?
Quando estiveres morto, virão enterrar-te,
quer tu sejas ou não culpado da tua morte.
Tu dizes: que já lutaste muito tempo.
Que já não podes lutar mais.
Pois ouve: quer tu tenhas culpa ou não,
se já não podes lutar mais serás destruído.
Dizes tu: que esperaste muito tempo.
Que já não podes ter esperanças.
Que esperavas tu? Que a luta fosse fácil?
Não é esse o caso: a nossa situação
é pior do que tu julgavas.
É assim: se não levarmos a cabo o
sobre-humano, estamos perdidos.
Se não pudermos fazer o que ninguém
de nós pode exigir afundar-nos-emos.
Os nossos inimigos só esperam que
nós nos cansemos.
Quando a luta é mais encarniçada é
que os lutadores estão mais cansados.
Os lutadores que estão cansados demais,
perdem a batalha.

É verdade, Bertolt, estou cansada, muito cansada, e, não é o teu poema-apelo que me vai tirar este cansaço.
Estou cansada de falsos profetas, de falsos ideais, e, de pessoas como tu que seguem falsos profetas, falsos ideais, e, querem que todo o mundo o faça.
No fim da tua vida compreendeste que tinhas seguido falsos profetas, falsos ideais, e, dizes isso claramente no ciclo das Elegias de Buckow (Buckower Elegien).
Também eu já acreditei que podia mudar o mundo.
Agora penso que tenho que mudar a mim mesma, e o círculo próximo mudará por consequência.

Kommentare

  1. Mas claro ... cada pequena mudança em nós e nos que nos são próximos pode mudar o mundo, sem profecias apenas com dedicação e alma. Dizia Fernando Pessoa: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

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  2. Anonym4/09/2011

    Infelizmenet também já estou a entrar na mesma fase, Teresa. Não sei se é capitulação, ou cansaço, mas sinto que nas últimas semanas mudei e deixei de acreditar na concretização dos contos de fadas e nas utopias. Parece-me que a partir de agora, a minha vida vai deixar de ter tanta graça.
    Bom fds
    Beijinhos de uma Lisboa tórrida.

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  3. Bem pensado, Teresa, gostei da sua conclusão.
    Não sabia que o Brecht tinha abjurado, tenho de ler isso, obrigada.

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  4. Vamos lá a levantar esse astral!!!
    Olhem que eu começo a dizer asneiras....

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  5. Ai Teresa, quanto derrotismo. Já todos nós nos convencemos de tanta coisa, de tantos profetas, mas baixar os braços, deitar a toalha ao chão... Quer dizer eu também estou cansado. Se calhar vou começar a escrever poemas brechtianos. Bom fim de semana.

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  6. No seu poema "Cansaço" o heterónimo de Pessoa, Álvaro de Campos, fala da "subtileza das sensações inúteis", e, das "paixões violentas por coisa nenhuma", para concluir do seu próprio cansaço.
    Serão tais sensações e paixões, que nos tempos actuais nos enlaçam, e nos levam à fadiga?
    Não creio, Teresa, não creio!
    Ao contrário do CBO ainda acredito na utopia da criação do Homem Novo, que não chegará, por certo, no meu tempo de vida, mas acredito.
    Tal esperança passei-a a filhos e netos, vendo neles umas luzes, ainda que ténues, de que a utopia um dia deixará de o ser.
    Sempre assim pensei. Não é agora, que a velho chego, que assim deixarei de pensar.
    Pode dizer que o meu pensamento é "conservador". Pois é! Mas é com muito carinho que o mantenho.
    Desejos de bfs, com um abraço do amigo de longe.

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  7. Teresa, cá vai a primeira desta Primavera para si
    http://balancedscorecard.blogspot.com/2011/04/primeira-papoila.html

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