O “Filme do Desassossego”, de João Botelho, será projectado no Teatro Nacional de São João (TNSJ), no Porto, entre quinta-feira e sábado


“Toda a gente dizia: é impossível.” João Botelho ignorou o bom-senso e filmou fragmentos desse livro-caos ou livro-sonho ou anti-livro que é o Livro do Desassossego de Bernardo Soares. Quase trinta anos depois do seu primeiro filme – Conversa Acabada (1981) –, construído a partir de poemas e da correspondência de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, o realizador voltou a imergir no universo de Pessoa, atraído pela índole do guarda-livros da Rua dos Douradores, pelos seus apontamentos sobre a luz (“ele diz que se devem iluminar os sapatos das pessoas comuns com a mesma luz que se ilumina a cara dos santos”), o abrandamento e a aceleração do tempo (coisas próprias do sonho, e do cinema) – e a sensação de que é um texto para ler em voz alta. “Quero que se oiçam as palavras todas, todas.” Filme do Desassossego congrega um impressivo elenco (não apenas em termos quantitativos) e arrisca integrar uma ópera de Eurico Carrapatoso encenada na floresta, uma festa no Lux, um monólogo num bar de alterne, participações musicais de Lula Pena, Carminho, Caetano Veloso e Ricardo Ribeiro. É o regresso de Bernardo Soares ao palco do TNSJ, que foi já o seu “escritório vasto” em Turismo Infinito (2007), espectáculo de uma escura pureza sobre a constelação Pessoa, assinado por Ricardo Pais.

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