FUGA DA MORTE de Paul Celan

Leite negro da madrugada nós o bebemos de noite
nós o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos de noite nós o bebemos bebemos
cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Um homem mora na casa bole com cobras escreve
escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete
escreve e se planta diante da casa e as estrelas faíscam ele assobia para os seus Mastins
assobia para os seus judeus manda cavar um túmulo na terra
ordena-nos agora toquem para dançar
Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos de manhã e ao meio-dia nós te bebemos de noite nós bebemos bebemos
Um homem mora na casa e bole com cobras escreve
escreve para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete
Teu cabelo de cinzas Sulamita cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Ele brada cravem mais fundo na terra vocês aí cantem e toquem
agarra a arma na cinta brande-a seus olhos são azuis
cravem mais fundo as pás vocês aí continuem tocando para dançar
Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos de noite nós bebemos bebemos
um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita ele bole com cobras
Ele brada toquem a morte mais doce a morte é um dos mestres da Alemanha
ele brada toquem mais fundo os violinos vocês aí sobem como fumaça no ar
aí vocês têm um túmulo nas nuvens lá não se jaz apertado
Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós te bebemos ao meio-dia a morte é um dos mestres da Alemanha
nós te bebemos de noite e de manhã nós bebemos bebemos
a morte é um dos mestres da Alemanha seu olho é azul
acerta-te com uma bala de chumbo acerta-te em cheio
um homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
ele atiça seus mastins sobre nós e sonha a morte é um dos mestres da Alemanha
teu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita

(Tradução de Modesto Carone no livro: "Quatro mil anos de poesia", J. Guinsburg e Zulmira Ribeiro Tavares, Ed. Perspectiva, 1969, SP

O poema Fuga da Morte, publicado em Mohn und Gedächtnis (Papoila e Memória), 1952 é, do ponto de vista artístico, uma das mais importantes criações em língua alemã sobre o extermínio nazista dos judeus.

Kommentare

  1. Querida Amiga

    O que dizes no meu blog sobre a ausência da tua mãe, sucede exactamente o mesmo comigo. Faz em Abril 8 anos que a perdi e não há dia nenhum em que esteja a meter o carro na garagem que não pense ... "Falta-me alguma coisa ... Falta-me ir à minha mãe". Contudo lembro-me do seu espírito forte e positivo que fazia da tristeza coragem e da alegria o caminho principal da vida. Sei que ela não queria ver-nos tristes e sobretudo que escurecessemos a vida com a sua partida. Frisou-nos isto mais que uma vez, daí que eu tenha assumido este lema e tenha conseguido "viver".

    Tenta pensar naquilo que a tua mãe gostaria que fosses, talvez te ajude a encarar a ausência dela de outra forma.
    Força, Amiga!

    Um abraço
    Licas

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  2. "Sandkunst" - Impressionen zu Paul Celans Frühwerk

    Der Weg, den Paul Celans Gedichte von ihren Czernowitzer Anfängen bis zum ersten, in Deutschland veröffentlichten Gedichtband "Mohn und Gedächtnis" nahmen, ist lang und verworren: Sie begleiteten ihn über mehr als zehn Jahre, durch vier Länder bis in das Pariser Exil, um dann nur zu einem kleinen Teil an eine breitere Öffentlichkeit zu kommen. Dr. Peter Goßens und Olaf Reitz werden in einer Kombination aus Vortrag und Rezitation Celan durch die verschiedenen Lebensstationen von Czernowitz bis Paris begleiten und dabei die wichtigsten Themenkomplexe seiner Lyrik vorstellen.

    Dr. Peter Goßens ist Akademischer Rat am Lehrstuhl für Komparatistik an der Ruhr-Universität Bochum.
    Er ist Autor und Kurator mehrerer Ausstellungen und Buchprojekte zu Paul Celan, u.a. Mitherausgeber des "Celan-Handbuch" (2008).
    Sein Habilitationsprojekt: "Weltliteratur. Geschichten. Transnationale Literaturwahrnehmung im 19. und 20. Jahrhundert".

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  3. Por cá também bebemos, mas com IVA a 23%, apartir de janeiro. Ma o problema português é a falta de chá!

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  4. Ainda antes de ler sobre o que era, pareceu-me forte e opressivo.

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  5. E porque li o primeiro comentário em cima, quis trazer para aqui, algo que me ajudou um bocadinho, de um Sermão feito pelo Canon Henry Scott Holland no Domingo de Ramos de 1910.




    O Quarto Ao Lado


    A morte não é nada ... Eu apenas fui para o quarto ao lado. Eu sou eu, e tu és tu. O que quer que tenhamos sido um para o outro continuamos a ser. Chama-me pelo meu nome familiar, fala comigo da forma fácil que sempre usaste. Não uses um tom diferente, não faças um ar forçado de solenidade ou mágoa. Ri como sempre rimos das pequenas piadas que nos divertiam aos dois. Reza, sorri, pensa em mim – deixa o meu nome continuar a ser a palavra familiar que sempre foi, deixa-o ser falado sem efeitos, sem a marca de uma sombra. A vida significa o que sempre significou. É a mesma que sempre foi, não houve nenhuma quebra de continuidade. Porque deveria ficar fora da tua mente só porque estou fora da tua vista? Eu estou à tua espera, num intervalo, algures muito próximo, logo a seguir à esquina. Está tudo bem.

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  6. Mariana Rey Monteiro morreu quarta-feira, 20 de Outubro de 2010, aos 87 anos.
    Afastada há mais de dez anos da interpretação, a actriz despediu-se de cena no papel de uma protagonista, em "Vidas de Sal".
    Mariana Dolores Rey Colaço Robles Monteiro, nascida em Lisboa a 28 de Dezembro de 1922, cedo se sentiu atraída pelo teatro.
    Depois de alguns recitais de poesia, a actriz estreou-se no Teatro Nacional D. Maria II, em 1946, com a peça "Antígona", sob direcção dos pais, Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro.

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