Retrato do poeta quando jovem de José Saramago

Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.


(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

Kommentare

  1. "Este é o rumor que mais profundamente fez estremecer a terra desde sempre: o passo do homem."
    (Poética dos Cinco Sentidos. O Ouvido)
    Abraço deste amigo de longe.

    AntwortenLöschen
  2. Podia agradecer o seu comentário, mas agradeco ter-me ensinado uma palavra nova, "ombridade".
    =)

    AntwortenLöschen
  3. deverá ser uma belíssima programação. belo poema tb. beijos, pedrita

    AntwortenLöschen
  4. Amiga Teresa!

    Belíssima escolha!

    É preciso que seja divulgada toda a obra do nosso amado Saramago.
    Este poema eu não conhecia.

    Obrigada.

    Beijinhos

    AntwortenLöschen
  5. Cheguei aqui tarde
    Mas nunca é demasiado tarde
    para ler um poema
    qualquer poema
    mas como insisti, em vir fui premiado
    o poema é de Saramago

    AntwortenLöschen

Kommentar veröffentlichen

Beliebte Posts aus diesem Blog

Tudo menos plano!