A nova produção do Teatro de Marionetas do Porto é "Wonderland" criado a partir de Alice no País das Maravilhas e Alice do Outro Lado do Espelho

Nova produção do Teatro de Marionetas do Porto já mexe. Na oficina da Rua de Belmonte, artistas partilham trabalho que começa quatro meses antes da estreia, marcada para Maio. "Wonderland" é peça para adultos.
A nova produção do Teatro de Marionetas do Porto já mexe. Com estreia marcada para 8 de Maio, em Matosinhos, WONDERLAND vai ganhando forma em dois sentidos: a par do trabalho que envolve os actores, há uma série de seres em construção na oficina da Rua de Belmonte. Ali nascem as personagens de mais um espectáculo baseado na obra de Lewis Carroll, desta vez dirigido ao público adulto. O JN deu uma espreitadela.
É a partir do barro que Júlio Vanzeler modela as cabeças. A da Alice está mais adiantada, já passou à fase da fibra de vidro, mas a da lagarta ainda nem chegou ao molde. Das mãos do ilustrador, que há mais de dez anos colabora com a companhia (começou, precisamente, com a peça "Alice no país das maravilhas", então em formato de teatro de sombras), saem os desenhos prévios e os modelos das caras das personagens. Geralmente, também desenha os figurinos, mas não neste caso.
Os trabalhos começam sensivelmente quatro meses antes da estreia. Depois da modelação fazem-se os moldes de que hão-de sair as caras definitivas e, a seguir, constroem-se as marionetas, que, por fim, são pintadas. É nestas três fases que entram Rui Rodrigues e Inês Coutinho, também colaboradores habituais do Teatro de Marionetas do Porto.
Rui é o técnico de realização plástica a quem cabe construir os esqueletos que vão completar as personagens. "Não há uma única marioneta de fios neste teatro", refere o artista, que desta vez optou pelo PVC (ver caixa) em detrimento da madeira. Ao lado, Júlio explica que "a construção das marionetas depende sempre das necessidades do encenador e dos actores", pois são eles que vão fazer os bonecos mexer em palco. No caso da lagarta nem haverá esqueleto - os braços do intérprete farão as vezes do corpo anelado da personagem.
Júlio Vanzeler destaca ainda o facto de este ser "um trabalho em que todas as áreas estão muito próximas", incluindo a da costura, no fim da linha de produção. O ilustrador dá um exemplo dessa cumplicidade: "Quando estou a moldar uma cabeça, vou ao ensaio ver como o papel está a ser interpretado, para que haja coerência entre a personagem que o actor está a representar e a que estou a desenvolver".
"Wonderland" terá um total de "20 coisas manipuláveis", segundo o encenador, João Paulo Seara Cardoso. Entre esses objectos cénicos, destacam-se o chapeleiro, cujo rosto será o do actor que manipula a marioneta, e, ainda, os animais com feições humanas. O também director da companhia explica que isso se deve ao facto de a história de "Alice no país das maravilhas" ser "um monumento ao nonsense, havendo que encontrar um equivalente a esse lado surreal e absurdo".
Depois da primeira versão baseada nos livros de Carroll, agora surge uma peça para gente grande, que estará em cena no Teatro Constantino Nery. "Aqui, há uma visão muito onírica da Alice, em que o texto é um pretexto para a criação de imagens", acrescenta Seara Cardoso, que prefere sempre "marionetas assumidamente artificiais, no sentido de se sentir o artifício técnico do objecto".
Exemplo disso é a intenção de deixar visíveis partes dos esqueletos feitos por Rui Rodrigues, cujo trabalho é tão pormenorizado que chega a contemplar "travões" nas articulações, para que braços e pernas de PVC se mexam como braços e pernas de carne e osso.

Kommentare

Kommentar veröffentlichen