A vida são dois dias e um deles é feriado

Há perguntas tão clichés em entrevistas e coisas do género que me dá vontade de responder para mim sobre mim, não vá o diabo tecê-las. Assim, quando eu for famoso por ter inventado um comprimido que permite às pessoas não dormir durante a noite sem adormecer no lavatório de manhã, e for entrevistado, e me for colocada uma dessas questões que parecem pragas comuns a todas as entrevistas, já estarei preparado e surpreenderei com uma responta previamente expontânea.
A pergunta que mais vezes detectei foi provavelmente "O que mudaria em si se tivesse oportunidade?", claro que a par de "Quais são os seus planos para o futuro?", "Qual é o seu maior medo?" ou "Onde acha que está a Maddie?".
A hipocrisia quase obrigatória de quem responde a perguntas com a consciência de que as pessoas que lerão aquela entrevista formarão muitos juízos sobre a sua personalidade, e a imagem custa muito a formar como nós a queremos - que é com os defeitos maquilhados e as qualidades carregadas - empurra os entrevistados para o habitual "Nada, sou feliz como sou". Balelas. Bullshit. Normalmente esta pergunta é feita em termos físicos, e como tal podemos dividir os entrevistados em duas categorias: os feios e os bonitos.
Os feios optam pelo conformismo, dizendo que gostam de ser como são. Os bonitos - espécie rara, e consequentemente resposta menos ouvida - dizem que mudam tudo e mais alguma coisa. Um toquesinho de modéstia. Tanto o conformismo como a modéstia ficam sempre bem. Ou pelo menos sabem bem a quem não os realmente possui.
Eu decidi responder a esta pergunta. E cheguei à conclusão de que o que mudava em mim era com certeza a minha preguiça. Depois de diminuir o nariz, tornar o meu corpo mais atlético, fazer alguma coisa em relação ao meu cabelo e tornar-me inteligente o suficiente para ganhar um jogo de Cluedo à minha mãe e poderoso o suficiente para fazer a Maria de Lurdes Rodrigues ser internada - como quem me conceder o poder de alterar algo em mim terá certamente também o poder de evitar que Maria de Lurdes Rodrigues seja internada, torçamos para que a alma caridosa que hipoticamente que daria tais poderes fosse jovem estudante e tivesse aulas de substituição às oito e meia.
Mas depois disto tudo, era a preguiça.
Não me entendam mal! Como português que sou, eu adoro a minha preguiça! Ai, o prazer que não é passar um domingo de pijama a consolar as mágoas de não ter a namorada por perto com futebol todo o dia na TV, dormir até tarde, e só me levantar para ir buscar de comer ao frigorífico ou ir ao quarto de banho, porque é assim o ciclo. Eu tenho orgulho desta minha faceta. E como vêm, exponho-a sem pudor, e a isto não ajuda só o orgulho mas também a desfaçatez. Há uma parte de mim que mal pode esperar por expôr orgulhosamente a minha barriga de cerveja.
Mas por outro lado, é algo que me faz esconder a cabeça de vergonha. Na sociedade portugesa em que vivemos, os preguiçosos são cada vez mais postos de lado. E ironicamente o nosso lado - dos preguiçosos - fica cheio. E do outro lado estão meia-dúzia. E nenhum deles é português.
Mas a verdade é que um preguiçoso é um inútil.
Vantagem: "Vamos dar este trabalho ao Diogo?", "Não, ele é preguiçoso, ao fim-de-semana não faz nada de certeza. Fico eu encarregue!". Muito bom, é menos uma coisa para fazer no fim-de-semana, tenho agora -1 coisas para fazer.
Desvantagem: "Convidamos o Diogo?", "Oh, é fim-de-semana, provavelmente ainda está a dormir! Vamos ver o Porto nós!". Felizmente isto nunca aconteceu. E uma vez que aconteça, nunca mais na vida me esperguiço.
Alguém muito sábio disse uma vez que "pessoas inteligentes são preguiçosos". Deve ter sido um estampador de camisolas que o disse - porque é de facto uma excelente prenda - mas era um sábio com certeza.
E que mal tem um pouco de preguiça? Deixem-me aproveitar o deleite do pecado! Toda a gente sofre de pelo menos um pecado capital. O único problema em mim é mesmo ter dois, e em peso: a famigerada preguiça e a gula.
E dava jeito cortar pelo menos uma, para não parecer mal. Falta saber é qual cortar e como.
Hum...
Let me sleep on it...

Diogo Hoffbauer

Kommentare

  1. O que me ri. E daqui se conclui que a preguiça é um mal menor, não incomoda ninguém. O que significa que Portugal está entregue nas mãos de gente que não dorme o suficiente, deve ser esse o caso da srª Ministra da Educação. Será que ela se inclui na lista dos feios? Está tão satisfeita consigo mesma que de certeza pensa mesmo sê-lo. O Diogo é filho da Teresa? Se é, tem sentido de humor inteligente.

    Beijinhos
    Isabel

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  2. Bom dia Teresa,
    não deu para ler o texto do Diogo , mas fica para logo com calma.
    Esta agitação, está a põr-me de língua de fora,ando cansada com tanta à dia já tenho uma vida bem agitada, quando aparecem compromissos, todos quase em simultâneo pior.
    Agora vou sair, com um sol que espero seja para ficar(não vou passear, vou numa missiva matinal de supermercado, o costume.
    Bom beijinhos e até logo
    Isabel

    Do lançamento depois falamos

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  3. eu adorei o vá ao diabo que o carregue, hehe. frases de defeito me incomodam sempre. resumem de forma simplista questões muito mais complexas. gostei do texto desse autor. e me lembrou um filme. não sei se vc consegue ele por aí, mas acho que iria gostar. é um filme brasileiro, amores possíveis, onde a partir de um desencontro, o autor cria três histórias possíveis. todas lindas, diferentes e interessantes. e acho que é isso. as escolhas nos fecham infinitas portas. nos abrem uma ou outra porta. mas isso não significa se seria melhor e pior. pode ser pior em alguns momentos, melhor em outros. enfim, escolhas. beijos, pedrita

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  4. Essa alegria, que me põe cativo,
    colheu-me, um dia, morto... e agora eu vivo. *Furlam Naeto*
    Beijo

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  5. Mas que post tão bem humorado! Sabe bem lê-lo numa segunda-feira... O Diogo é seu filho? Se é, está de parabéns, Teresa.

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  6. Um texto muito engraçado e bem humorado!

    E concordo que ele, Diogo, deve dormir sobre o assunto... :)

    Beijocas e parabéns ao rapaz! (não é aquele neto que também tem um blog?)

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  7. Pois é Diogo, esta é para ti, embora estejas a escrever no blogue da avó.
    Que mal tem um pouco de preguiça?
    Se a inventaram é para nos servirmos dela de vez em quando.
    Por acaso nunca viste um filme chamado "O ELOGIO DA PREGUIÇA".
    Apesar de o ter visto há uns anitos atrás adorei, foi dos filmes que na altura mais gostei.
    E preguiçemos de vez em quando, sabe tão bem!!!!
    Abraço
    Isabel

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