John Updike faleceu em 27 de Janeiro de 2009, vítima de cancro do pulmão

John Updike (à esquerda) ao receber "National Medal of the Arts" com Barbara e George H. W. Bush no dia 17 de Novembro de 1989

No Público
O escritor norte-americano John Updike morreu ontem de manhã aos 76 anos, no Massachusetts, vítima de cancro de pulmão. Acreditava que escrever o ajudava a tornar o mundo mais real - para si próprio e para os leitores.
"Era um dos nossos maiores escritores e vamos sentir muito a sua falta", disse à imprensa Nicholas Latimer, da sua editora, a Alfred A. Knopf. Pelos romances Coelho Enriquece (1982) e Rabbit at Rest (1991) da famosa pentalogia Coelho, Updike recebeu dois Pulitzer e ao longo da vida nunca lhe faltaram prémios. Recebeu ainda, entre outros, o National Book Award in Fiction, o American Book Award e o National Book Critics Circle Award For Fiction. É verdade que nunca recebeu o Nobel, mas deu-o a Henry Bech, uma das suas personagens carismáticas, um escritor judeu que aparece em alguns dos seus livros (Bech, a Book; Bech Is Back e Bech at Bay).
O seu último romance, publicado em Outubro nos EUA, é The Widows of Eastwick, obra em que regressa às histórias das três bruxas de Eastwick. Alexandra, Jane e Sukie, que conhecemos em As Bruxas de Eastwick (1984). Agora, 30 anos depois, elas são viúvas. The Widows of Eastwick é a sequela de um livro adaptado ao cinema, em 1987, por George Miller, com Jack Nicholson, Susan Sarandon, Michelle Pfeiffer e Cher.
Regressar às mesmas personagens ou acompanhá-las ao longo das sinuosas curvas da vida era uma das características do escritor. Elas envelheciam, ele acompanhava-as. Pelos seus livros passavam os subúrbios norte-americanos, os casamentos, os divórcios e o sexo. As "pequenas cidades americanas, a classe média protestante", como disse um dia. Mas também se aventurou pelo Brasil e escreveu um romance que se passa em África.
Um artigo no site da Academy of Achievement cita um ensaio autobiográfico em que Updike identifica "o sexo, a arte e a religião" como os três grandes segredos da experiência humana.
Autor de mais de 50 obras, prolixo, dedicou-se a todos os géneros. Escreveu romances, contos, poesia, ensaios, memórias e fez crítica literária. Ficou famoso com a publicação em 1960, de Corre, Coelho, onde aparece pela primeira vez a personagem Harry "Coelho" Angstrom, ex-estrela de basquetebol que começa a sentir que a sua vida não faz sentido. Foi com esse livro, já se disse, que libertou a escrita norte-americana da utilização das formas verbais do passado, utilizando sempre o presente - o que passou a ser, depois, um cliché entre os autores mais novos.
Updike acompanhou Harry "Coelho" Angstrom ao longo de vários livros. O seu editor, Alfred A. Knopf, aconselhou-o a fazer algumas alterações nesse livro às descrições da vida sexual de Harry para não ser acusado de obscenidade. Ele assim fez e anos mais tarde, a edição britânica decidiu publicar o texto original.
Início na New Yorker
John Updike nasceu na Pensilvânia em 1932. Na adolescência, era gago e acreditava que a capacidade de escrita lhe vinha dessa dificuldade em falar. Foi a mãe, que era aspirante a escritora, que o incentivou a escrever e a desenhar. O pai era professor de Matemática. Acabou por se licenciar em Harvard (em Língua Inglesa) e estudou depois Artes Plásticas em Oxford. A sua carreira de escritor começou em 1954, quando a revista The New Yorker publicou um dos seus contos e um poema. Foi depois de regressar de Inglaterra que aceitou o convite para fazer parte da equipa. Ali ficou dois anos, altura em que se mudou para o Massachusetts ("a América real parecia-me estar ali", disse mais tarde). Continuou a colaborar com a revista, mas decidiu ser escritor a tempo inteiro.
A revista Time colocou-o na capa de um dos seus números depois da saída, em 1968, do romance Casais Trocados - retrato das relações complicadas entre vários casais dos subúrbios. E voltou a fazê-lo quando ele fez 50 anos.
"Updike é um dos melhores, mais consistentes e mais humanos escritores de língua inglesa da segunda metade do século XX", escreveu o The Independent on Sunday. Por vezes foi acusado de ser misógino, racista e apologista do establishment (Norman Mailer atacou-o por considerar que, do ponto de vista literário, era um autor apreciado pelos leitores que não percebiam nada de literatura).
Membro da American Academy of Arts and Letters desde 1976, recebeu em 2003 a National Medal for Humanities, na Casa Branca, juntando-se a um grupo restrito de notáveis que foram contemplados com a medalha. O Terrorista, Procurai a Minha Face, Regressa, Coelho, Brasil são outras das suas obras traduzidas em português na editora Civilização.

Entrevista com o escritor americano John Updike




Ler no The New York Times

Kommentare

  1. O problema de acompanhar blogs que falam de literatura é que imediatamente descubro que, apesar de ler com frequência, falta-me muito para ler. não conheço updike a não ser de nome... mas também não tenho tempo para ler tudo o que queria, espero mesmo que me arranjem um pilula de longevidade para cobrir o que me falta ;-)

    AntwortenLöschen
  2. Bem aparecida!

    É sempre com pesar que se recebe uma notícia do desaparecimento de alguém, principalmente de quem dedicou a vida à escrita. Vida nada fácil.

    Um escritor estadudinense que deixa obra considerável e na filiação aos seus antecessores, desde o pai da literatura americana, Mark Twain, até Faulkner. Li e vi o filme, a partir do livro conhecidissimo, "As Bruxas de Eastwick".

    Beijinhos
    Isabel

    p.s.vem aí desafio! Só depois de amanhã.

    AntwortenLöschen
  3. Ah, nunca li nada do escritor mas vi "As bruxas de Eastwick".

    Então quanto ao "clube de leitura" é assim: em conversa com uma amiga minha, decidimos experimentar assim só a quatro, contando com os respectivos maridos. Depois outras pessoas resolveram juntar-se, o grupo cresceu e diminuíu. Actualmente somos apenas cinco mulheres e um homem, em que este nem sempre participa na discussão. Em cada reunião discutimos um livro e escolhemos (entre todos os livros sugeridos, às vezes por votação) um para uma próxima data que é marcada com antecedência com a concordância de todos (por causa de aniversários de familiares e assim). E pronto, discutimos no bom sentido, conversamos sobre outros assuntos, petiscamos uns queijinhos, uns patés e umas tostas, às vezes um bolito, e bebemos umas cervejitas. Daí a cerca de dois meses, temos nova reunião-discussão-convívio. Ah, o local vai rodando entre as várias casas de todas nós.

    Espero ter esclarecido. Mas há quem tenha "Clubes de Leitura" mais a sério, para discutir grandes clássicos à lupa, nós achámos por bem não "intelectualizar" demais... São opções!

    Ah, o meu marido desistiu ao fim da primeira sessão, não porque não goste de ler, mas porque tem pouco tempo para tal e não gostar de se cingir a um livro "obrigatório".

    Sorry, pela loooonga explicação! :)*

    Beijoca!

    AntwortenLöschen

Kommentar veröffentlichen

Beliebte Posts aus diesem Blog

Tudo menos plano!