Dia histórico __ Manoel de Oliveira cumpre hoje 100 anos, quase 80 dos quais a respirar cinema



Manoel de Oliveira é originário de uma família da média-alta burguesia, com antepassados fidalgos, facto que muito influenciaria o teor e as temáticas da sua futura obra cinematográfica. O seu pai, Francisco José de Oliveira, foi o primeiro fabricante de lâmpadas em Portugal. Estudou no colégio de jesuítas de A Guarda (Galiza). Na juventude dedicou-se ao atletismo e, mais tarde, ao automobilismo e à vida boémia. Aos vinte anos ingressou na escola de actores de Rino Lupo, cineasta italiano radicado no Porto, um dos pioneiros do cinema português de ficção.

Quando viu o documentário vanguardista Berlim, Sinfonia de uma Cidade de Walther Ruttmann, ficou muito impressionado e decidiu fazer um filme inspirado naquele sobre a cidade do Porto, um documentário de curta metragem sobre a actividade fluvial na Ribeira do Douro: Douro, Faina Fluvial (1931). O filme suscitou a admiração da crítica estrangeira e o desagrado do público nacional. Seria o primeiro documentário de muitos que abordariam, de um ponto de vista etnográfico, o tema da vida marítima da costa de Portugal: o Douro (Oliveira), a Nazaré (Nazaré, Praia de Pescadores, Leitão de Barros), o Algarve (Almadraba Atuneira, António Campos), o Tejo (Avieiros, Ricardo Costa).

Adquiriu entretanto alguma formação técnica nos estúdios alemães da Kodak e, mantendo o gosto pela representação, participou como actor no segundo filme sonoro português, A Canção de Lisboa (1933), de Cottinelli Telmo. Só mais tarde, em 1942, se aventuraria na ficção como realizador: Aniki-Bobó, um enternecedor retrato da infância no cru ambiente neo-realista da Ribeira do Porto. O filme foi um fracasso comercial e só com o tempo iria dar que falar. Oliveira decidiu, talvez por isso, abandonar outros projectos de filmes e envolveu-se nos negócios da família. Não perdeu porém a paixão pelo cinema e em 1956 voltou, com O Pintor e a Cidade.

Em 1963, O Acto da Primavera (segunda docuficção portuguesa) marcou uma nova fase do seu percurso. Com este filme, praticamente ao mesmo tempo que António Campos, iniciou Oliveira em Portugal, a prática da antropologia visual no cinema. Prática essa que seria amplamente explorada por cineastas como João César Monteiro, na ficção, como António Reis, Ricardo Costa e Pedro Costa, no documentário. O Acto da Primavera e A Caça são obras marcantes na carreira de Manoel de Oliveira. O primeiro filme é representativo enquanto incursão no documentário, trabalhado com técnicas de encenação, o segundo como ficção pura em que a encenação não se esquiva ao gosto do documentário.

A obra cinematográfica de Manoel de Oliveira, até então interrompida por pausas e projectos não-realizados, só a partir da sua futura longa metragem (O Passado e o Presente - 1971) prosseguiria sem quebras nem sobressaltos, por uns trinta anos, até ao final do século. A teatralidade imanente de O Acto da Primavera, contaminando esta sua segunda ficção, afirmar-se-ia como estilo pessoal, como forma de expressão que Oliveira achou por bem explorar nos seus filmes seguintes, apoiado por reflexões teóricas de amigos e conhecidos comentadores.

A tetralogia dos amores frustrados seria o palco por excelência de toda essa longa experimentação. O palco seria o plateau, em que o filme falado, em «indizíveis» tiradas teatrais, se tornariam a alma de um cinema puro só por ter o teatro como referência, como origem e fundamento. Eram assim ditos os amores, ditos eram os seus motivos e ditos ficaram os argumentos de quem nisso viu toda a originalidade do mestre invicto: dito e escrito, com muito peso, sem nenhuma emoção, mas sempre com muito sentimento.

Manoel de Oliveira insiste em dizer que só cria filmes pelo gozo de os fazer, independente da reacção dos críticos. Apesar dos múltiplos condecorações em festivais tais como o Festival de Cannes, Festival de Veneza, Festival de Montreal e outros bem conhecidos, leva uma vida retirada e longe das luzes da ribalta.

Os seus actores preferidos que entram regularmente nos seus filmes são Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira e Diogo Dória.

É professor honorário da Academia de Cinema de Skopje * Recebeu em 2008 o Prémio Mundial do Humanismo
2009 - Singularidades de uma Rapariga Loura (em rodagem)

Kommentare

  1. .querida________Teresa




    ___é uma época linda para visitar Düsseldorf_____embora o frio se faça sentir bastante

    ______mas nesta época___existe todo um encanto muito especial


    [espero que o livro também vá:))


    ___________...




    MANOEL DE OLIVEIRA: O MODERNO PARADOXAL


    __________esteve na “Fundação de Serralves”

    ____num seminário que propôs uma revisão crítica do cinema de Manoel de Oliveira. procurando analisar os mais importantes elementos formais___conceptuais e temáticos que estruturam a sua obra____fazendo emergir___por um lado__algumas das configurações mais características da estética do autor e evidenciando___ por outro. o modo como a sua produção cinematográfica dialoga com o contexto histórico em que intervém


    . este seminário teve o propósito______assim. desenvolver uma abordagem transversal da heterogénea filmografia de Manoel de Oliveira e aprofundar as questões fundamentais do seu pensamento cinematográfico_____apoiando a reflexão na análise de planos e sequências paradigmáticos e promovendo o debate entre os participantes.

    (uma orientação de António Preto)








    _____...floquinhos de neve



    .e.o


    _____... Hou! Hou! Hou!!!__do Pai Natal



    "Jingle bells chime in jingle bell time_____...







    beijO_______ternO

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  2. Pois é verdade, 100 anos e não só: ainda a respirar saúde, física e mental. Assim, sim, vale a pena...

    Não é que seja fã dele como cineasta, ná, nem vi muita coisa que o pouco que vi não gostei. Mas há quem aprecie e há que dar lugar às diferenças... :)))

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  3. Sirvo-me de um dos muitos marcadores de livros que comemoram este dia dedicado a Manoel de Oliveira. Diz ele:"E assim, a expressão vital-substância de toda a arte-se transforma a cada instante em substrato artístico no íntimo do ser. E ali fica potencialmente conservado esse instante fugaz, que tanto pode servir para receber como para dar. Por isso, ouso a contradição de que a vida não existe, mas existe apenas o que fica do seu teatro-a arte, vida que já não é vida, instante bruscamente perdido, ápice já decadente."

    E eu assino por baixo. Grande vulto da nossa cultura, do cinema, escrevendo divinamente.

    Beijinhos
    Isabel

    p.s.Teresa as poucas pessoas que conheço estão de férias, ou ocupadas, não reunia quorum para as 5 pessoas.

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