Sao a evolucao e a fé religiosa compatíveis?

O meu amigo ccz acaba de me chamar à atencao para um artigo de Anselmo Borges, Padre e professor de Filosofia, no Diàrio de Notícias:


Capa do livro A Origem das Espécies, de 1859

Não cabe aqui um esboço sequer da história das concepções evolucionistas. De qualquer modo, a ideia de evolução já tinha acenado entre os gregos. Em 1809, Lamarck expôs a sua teoria da não imutabilidade das espécies. Mas foi em 1858, há 150 anos, que a ideia da selecção natural e da luta pela existência, de Alfred Russel Wallace e Charles Robert Darwin, foi apresentada na Linnean Society de Londres. No ano seguinte, em 1859, Darwin publicou a obra célebre: A Origem das Espécies.

Atendendo a estas datas e sobretudo às celebrações do segundo centenário do nascimento de Charles Darwin - nasceu em 12 de Fevereiro de 1809 -, aumentarão os estudos científicos sobre as teorias da evolução, não faltando os debates à volta da sua relação com a religião, por causa do livro do Génesis, do "criacionismo" e do chamado "desígnio inteligente".

O primeiro embate célebre deu-se logo em 1860, em Oxford. Perante uma assistência numerosa, o bispo de Oxford, Samuel Wilberforce, foi perguntando ao naturalista Thomas Huxley, defensor de Darwin, se descendia do macaco pelo lado do avô ou pelo lado da avó. Huxley respondeu: "Penso que um homem não tem que envergonhar-se por ter um macaco como avô. Se tivesse de envergonhar-me de um antepassado, seria de um homem: um homem de inteligência superficial e versátil que, em vez de contentar-se com os sucessos na sua esfera própria de actividade, vem imiscuir-se em questões científicas que lhe são completamente estranhas, não faz senão obscurecê-las com uma retórica vazia, e distrai a atenção dos ouvintes do verdadeiro ponto da discussão através de digressões eloquentes e hábeis apelos aos preconceitos religiosos."

Por causa desta resposta, considerada pouco elegante, uma senhora desmaiou. A mulher do bispo, essa, terá dito entre dentes: "Só faltava esta: descender de macacos! Se for verdade, rezemos para que ninguém saiba."

A teoria da evolução constituiu uma daquelas humilhações do Homem de que falou Freud. Embora o Homem não descenda do macaco, ele e o macaco descendem de um antepassado comum, o que não constituiu uma descoberta particularmente exaltante. Desde então a nossa visão da natureza, do Homem e de Deus modificou-se.

Significativamente, já na altura, muitos religiosos britânicos declararam que não havia incompatibilidade com a fé. O historiador das ciências D. Lecourt escreveu: "A figura mais importante da Igreja escocesa declarou-se evolucionista e, num curso, em 1874, aconselhou os teólogos a sentirem-se 'perfeitamente à vontade com Darwin'." Darwin, sepultado com pompa, em 1882, na abadia de Westminster, a alguns passos do túmulo de Newton, nunca foi oficialmente condenado pela Igreja católica e A Origem das Espécies nunca esteve no Índex.

De qualquer modo, segundo o reverendo Malcom Brown, director dos serviços de relações públicas da Igreja Anglicana, a sua Igreja deveria agora pedir desculpa pela má interpretação de Darwin e algum fervor anti-evolucionista.

Hoje, os equívocos beligerantes provêm essencialmente do "criacionismo" americano e do chamado "desígnio inteligente". Mas o "criacionismo" assenta numa leitura literal do mito da criação do Génesis, esquecendo que o Génesis é um livro religioso e não de ciência e que só uma leitura simbólica é adequada. Quanto ao "desígnio inteligente", o seu equívoco provém da ambição de demonstrar Deus pela ciência.

De facto, como é evidente, a existência de Deus não é nem pode ser objecto de ciência. Mas afirmar taxativamente que a evolução é mero produto do acaso não deixa de ser também uma posição dogmática. A ciência vai respondendo ao "como" da evolução, mas não responde ao "porquê", concretamente ao porquê e para quê da existência do Homem e de tudo: "Porque há algo e não pura e simplesmente nada?"

Como escreveu o cientista Francisco J. Ayala, na conclusão da sua obra Darwin e o Desígnio Inteligente, "a evolução e a fé religiosa não são incompatíveis. Os crentes podem ver a presença de Deus no poder criativo do processo de selecção natural descoberto por Darwin".

The Friends of Charles Darwin

Kommentare

  1. a ciência e a fé explicam várias questões. mas há respostas que sempre terão teorias, não comprovações. por mais científico ou religioso que seja. a psicologia sempre diz que em muitos casos buscamos pessoas que confirmem aquilo que acreditamos. e acho que deve ser mais ou menos isso. acho que a ciência e a fé podem conviver juntas. ou só cada um em separado. cada um acredita naquilo que lhe responde mais. assunto complexo. pq eu mesma já fiquei pensando que tem gente que procura aquilo que não responde mais pq acredita que o que não responde mais é o mais verdadeiro. enfim...

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  2. O que a Pedrita diz, e muito bem, é exactamente o que acontece comigo. Nao acredito que a evolucao e a fé sejam compatíveis, entao, procuro, e encontro muitas pessoas, que confirmam o que eu penso.
    Aceito, no entanto, todas as pessoas, que acreditam que a ciencia e a fé podem conviver juntas.

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  3. BOM-DIA TERESA

    Este assunto continua sendo controverso, como as convicções religiosas pertencem a um círculo pessoal e, portanto, são subjectivas, eu penso, no entanto, que a interpretação da criação possibilita pontos de contacto entre ciência e fé. Mas cada uma delas tem objectivos e fundamentos diferentes. A fé baseia-se na adesão à transcendència de modo cego e sem questionação, no que diz respeito à assunção de um Deus possível de ser provado cientificamente, testado e comprovado. A transcendência, qualquer que ela seja, circunscreve-se à esfera das experiências pessoais, à cultura, à tradição, à conversão interior.
    Lembro-me de um livrinho que li no passado, em que, relativamente à matemática, se fala em matéria de fé. Aqui eu encontro um ponto de contacto, na evolução de conceitos, de reposicionamentos necessários às exigências da actualidade, por parte dos teóricos, quer teólogos, quer cientistas...Mas o que eu sei é da experiência da criação, sua-se na entrega, de repente algo acontece, sempre um mistério que nos ultrapassa. Agora o que eu posso dizer é que recuso dogmas, sendo eu católica. Recuso a infalibilidade do Papa, recuso o sacramento da confissão, o sacramento do matrimónio. Sáo questões de consciência que só o próprio pode avaliar. Os sentimentos não podem ser reduzidos a um compromisso estagnado no passado, nem a preceitos impostos por homens que de vida matrimonial, ou de paixão, nada sabem. Assim como me recuso abrir o meu coração a um homem que se diz ser uma via através da qual se chega a Deus. Com Deus falo pessoalmente e a minha consciência a ele pertence.
    Para terminar este "relambório", posso dizer apenas que, em todo o acto critivo, revejo os dias de trabalho do Espírito de Deus, criando o mundo e todas as criaturas. Mas as pessoas foram infiéis a este projecto, uma árvore é abatida em nome do progresso, de interesses económicos, algumas espécies estão em extinção, estamos a perder a unidade do ser com a natureza.
    Desviei-me um pouco do assunto, mas eu sou uma proscrita.

    Beijinhos e bom-fim-de-semana
    Isabel
    p.s.Curiosidade:o meu gato Ellison só bebe água em recipientes maiores do que ele, parece que está a entrar na piscina!

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  4. obrigada querida, vc sempre com suas ótimas colocações. é verdd, sempre vejo que a própria ciência tem quem acredita em um tema e outro não. e ambos provam bem cada lado de suas teorias. então acho que é isso mesmo. nós escolhemos aquilo que nos acolhe mais. e cada um busca aquilo que lhe responde mais. seja na fé, na ciência.

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  5. A Isabel, já disse quase tudo e muito bem.
    Não me vou alargar no comentário, são coisas muito complexas, que cada pessoa vê à sua maneira, à luz da sua fé.
    Mas também existe muita coisa que só se entende através de muitas "ciências".
    Acho que tudo na vida sempre anda de mãos dadas, quer queiramos ou não.

    Vou passar o Fim de Semana ao Alentejo, com o António a miudagem fica por cá.
    Vai ser um Fim de Semana a dois na casa de madeira.
    Deixo os pintaínhos, cada um com a sua vida, mas chego lá e choro.

    Ai...ai Maria Isabel, deixa de ser mãe galinha!!!!
    Beijos

    Devo levar o portátil, a não ser que a Mariana precise dele, por causa de trabalhos que começou esta semana e tem que acabar e para ir estudar com amigas tem que o levar.

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  6. Gostei do seu post. Creio que a fé e a ciência se complementam. Não podem existir separadas...
    Obrigada, pelo seu comentário no Mello. Posso até parecer uma pessoa triste, mas não sou. Sou muito alegre, não costumo a levar os meus problemas para a escola, mas quando estou só: escrevo de forma triste. A tristeza que não transmito aos outros no dia-a-dia, costuma a sair-me nos textos. Quanto à minha amiga, Fátima, é uma boa pessoa e está a sofrer muito.
    O outro poema está relacionado com todos nós, quantas vezes não temos sonhos, coisas projectadas e depois aparece algo que destrói tudo e ficamos arrasados, mas a seguir ganhamos força e olhamos o céu, dentro de nós sentimos uma esperança a nascer no coração, uma centelha que nos indica que temos de voltar à luta.
    Fez bem levar o vídeo para o seu cantinho!

    Beijinhos e fica bem,

    Graça Mello

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  7. Sendo um homem de ciência e assumidamente crente em Deus (embora não O saiba definir), não vejo incompatibilidade entre evolução e fé, contudo não consigo conceber a compatibilização entre ciência e criacionismo.
    As verdades científicas estão sujeitas à verificação prática, as suas teorias baseiam-se na observação e explicação da natureza, a fé não carece destes testes, embora possa ser ampliada quando a observação é consistente com a crença.
    O criacionismo fundamenta-se em modelos de crenças, exactamente o oposto daquilo em que se baseia a ciência.

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  8. Eu acredito em Deus...

    E sou católico... pois a igreja católica dá espaço á ciência...

    O Génesis é quase todo inventado e a I.C. sabe disso, e não é apoiante do criacionismo...

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