No Público

A maioria das pessoas gosta de dar e receber, pelo menos em teoria. Então porque é que toda esta história de presentes de Natal se transformou num Inferno? Numa sondagem publicada no início deste ano, metade dos inquiridos disse que na próxima Primavera ainda vai estar a pagar a conta do cartão de crédito do Natal do ano passado.
E não são só as dívidas que estão a provocar tanta infelicidade. Um outro inquérito, publicado em 2005, mostrava que três quartos dos americanos consideram que a época natalícia se tornou demasiado materialista. E mesmo a comodidade das compras on-line não conseguiu alterar uma triste realidade: a maioria de nós acaba por comprar alguns presentes - geralmente à última hora - por puro desespero.
"Isto está tudo errado", diz Lisa Wise, directora do Centro para o Novo Sonho Americano, uma organização sem fins lucrativos que encoraja os consumidores a serem social e ambientalmente responsáveis. Ela diz que o acto de oferecer presentes deve ser sincero e ponderado e não forçado. "Devíamos pensar mais no que aquela pessoa verdadeiramente quer receber ou que realmente precisa", diz Wise, que está a pensar naquelas caixinhas cheias de coisas inúteis expostas ao lado de todas as caixas registadoras de qualquer loja dos centros comerciais. As pessoas não compram aquelas pechinchas porque alguém que elas gostam realmente precisa de um creme de menta para os lábios, de uma caixinha com sabões miniatura ou de um porta-chaves que também tem uma lanterninha. Elas compram-nas, defende Wise, porque estabeleceram um limite de dinheiro que acham que devem gastar ou um número prévio de presentes que acham que aquela pessoa espera receber.
Existe uma alternativa: Wise chama-lhe ser "um consumidor consciente" e este talvez seja o ano em que a moda pega. As premissas básicas deste conceito são: simplicidade, ponderação e sinceridade.
E não vale a pena endividar-se só para ter uma época natalícia festiva.
Dito tudo isto, convencer as outras pessoas a alinhar no seu plano pode ser complicado. A decisão de mudar a tradição dos presentes no seu círculo mais restrito de familiares e amigos não é, infelizmente, algo que possa ser feito unilateralmente. É maravilhoso que este ano queira tricotar para toda a gente um abafador para bules, mas e se a sua avó estivar à espera do seu habitual perfume anual? Prevê-se, claro, uma discussão familiar e deve estar preparado(a) para defender o seu argumento de modo a salvar a noite.
"As novas tradições não acontecem de um dia para o outro", avisa Wise.

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Estabeleça um limite para o dinheiro que vai gastar. Pode ser difícil manter-se dentro do orçamento previsto quando os outros à sua volta são uns grandes gastadores. Ninguém quer oferecer um par de meias e receber uma consola Wii da Nintendo (ou o contrário, já agora). Se toda a gente concordar previamente com uma quantia razoável a gastar, ninguém ficará com remorsos por ter gastado demasiado ou se sentirá culpado por ter gastado de menos. Em muitas famílias, principalmente aquelas que estão a crescer com novos adultos e crianças, fazer o sorteio de nomes pode ser a solução. Mesmo se o limite de dinheiro a gastar for de 80 euros, o Natal pode-lhe sair barato porque cada um só está a comprar prenda para uma pessoa.
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Lembre-se: menos é mais, mesmo para as crianças. As famílias com crianças pequenas podem achar útil limitar o número de presentes e não apenas o seu valor monetário."Era obsceno o número de brinquedos e prendas que os miúdos recebiam", diz Jennifer Zahradnik, uma residente de Washington cuja família do marido incluiu 11 netos. "E os pais deles estavam fartos de receber tanta tralha". Os adultos da sua família há anos que fazem sorteio de nomes para limitar o número de prendas que se dão e que se recebem e há alguns anos os mais novos começaram a fazer o mesmo.
Mas é claro que em muitas famílias a redução do número de prendas não é algo a que todos se habituem do dia para a noite. Michele Borba, um perito em desenvolvimento infantil, recomenda que o processo seja feito com passinhos de bebé. "Não façam isto de repente", avisa Borba. Os pais devem primeiro falar com as crianças e depois conduzi-las suavemente para uma quadra natalícia mais simplificada. "Digam-lhes: 'Este ano vamos poupar no Natal'. Não é preciso entrar em muitos de detalhes sobre o problema das bolsas, até porque a maioria das crianças aceitam as mudanças desde que entendam as razões".
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Façam uma colecta e depois "desbundem". Em vez de gastar 20 euros por pessoa em presentes separados, um grupo de amigos ou de familiares pode unir esforços financeiros e comprar algo realmente especial. Isto também funciona bem para aniversários e casamentos. "Um ano, para o 30.º aniversário de uma amiga nossa, um grupo juntou dinheiro e comprou um quadro de um artista de que ela gostava muito", recorda Lisa Wise. "Passados estes anos todos, ainda tem o quadro e ainda o adora".
E tem falta de ideias megalómanas para presentes? Que tal oferecer uma experiência? Para os fanáticos dos spas, pense numa massagem exótica. Ou num tratamento completo de mãos e pés. Ou num envolvimento corporal em algas marinhas. Para os maluquinhos do desporto, esqueça a camisola da equipa favorita e compre dois bilhetes para o derby do tudo ou nada ou para aquele jogo imperdível da Liga dos Campeões. Uma criança pode gostar de bilhetes para um espectáculo infantil. E para uma família, porque não comprar um cartão de sócio familiar para um museu?
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Peçam contribuições. Alysha Taylor pediu à sua família alargada para não lhe oferecer presentes no Natal passado e, em vez disso, ajudar a financiar uma viagem no Verão a um resort da Rua Sésamo nas Caraíbas para ela, o marido e os seus dois filhos pequenos. "É bastante comum na nossa família juntarmo-nos todos para comprar uma única prenda mais cara", explica.
Em algumas famílias, no entanto, pedir contribuições financeiras pode ser um assunto delicado. Borba recomenda tacto e sensatez. E não hesitem em delegar a diplomacia. "Provavelmente terá que ser o marido a pedir dinheiro aos pais dele e a mulher a pedir aos dela", diz Michele Borba. No caso de Alysha Taylor, só a sua família foi convidada a contribuir para as férias nas Caraíbas. A família do seu marido deu outros presentes, o que resolveu a sua grande preocupação em todo este plano: a reacção do seu filho de três anos a uma noite de Natal sem presentes para abrir. "Havia prendas suficientes na árvore de Natal para ele se sentir feliz"
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Gastem tempo e não dinheiro. Lembram-se quando tinham dez anos, nenhum dinheiro para gastar e tinham que arranjar uma prenda de Natal para a mãe? Lembram-se quando faziam cartõezinhos a oferecer "mil beijinhos" ou "abraços para todo o ano"? Muito bem, talvez o truque dos abraços não funcione, mas pense no que é que tem para oferecer: serviço de babysitting para pais exaustos; ajudar um amigo a pintar a casa que ele acabou de comprar/alugar; ficar com o animal de estimação de uns amigos que vão de viagem. Se tiver medo que o cartão não seja levado a sério, seja específico e escreva "quatro horas de babysitting no dia 8 de Março". Pode ser sempre renegociado e reforça a ideia de que está mesmo a falar a sério.
Michele Borba diz que os pais devem convencer os avós e outros membros da família a oferecer experiências em vez de brinquedos ou roupas. Expliquem aos avós que o que os miúdos querem são boas recordações. "Levem-nos a qualquer lado especial". E se os avós continuarem relutantes perante a ideia de aparecerem na noite de Natal de mão a abanar, podem sempre oferecer um pequeno símbolo concreto: um boneco panda equivale a uma ida ao jardim zoológico, uma bola de futebol equivale a uma ida a um jogo importante, por exemplo. Borba também gosta de oferecer aulas (violino, ballet, futebol) a uma criança que tenha demonstrado um interesse prévio. Um presente destes, explica, pode servir como uma "ligação" entre quem dá e quem recebe, especialmente no caso em que quem recebe é um miúdo de sete anos que só quer falar de futebol, mesmo com a avó.
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Faça você mesmo. Com algum tempo e, talvez, um pouco de talento, a maioria dos adultos podem fazer algo de valioso com as suas mãos: uma fotografia emoldurada, um cachecol, uma caixa de biscoitos. "Os produtos consumíveis são uma óptima solução", diz Wise. "O seu impacto ambiental é mínimo e não vão parar a um monte de coisas inúteis". Em vez dos habituais presentes, o pai norueguês de Zahradnik oferece aquilo a que ela chama "pacotes de tradição": colecções de alimentos feitos ou comprados em lojas norueguesas, tais como hjortebakkels (donuts), yula kaka (pão) e gjetost (queijo de cabra). "Eu sei que posso compar estas coisas no supermercado, mas sabem todas muito melhor vindas do meu pai", confessa Zahradnik.
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Dêem a organizações de caridade. Esta alternativa aos presentes pode ser difícil de executar. O segredo do sucesso é garantir que a causa que vai apoiar é importante não apenas para si, mas também para a pessoa a quem vai dar este "presente". Só porque quer garantir que todos os dálmatas têm uma casa e uma vida feliz, isso não quer dizer que o seu amigo(a) viva muito preocupado com a vida animal. É essencial saber quais são as causas que lhe interessam e para as quais até já pode ter contribuído.
Algumas organizações humanitárias são especialmente boas a fazer com que o doador se sinta realmente envolvido na causa e algumas são particularmente simpáticas para as crianças. O Fundo Mundial da Natureza (WWF), por exemplo, deixa os doadores "adoptar" um animal em perigo: escolha de um lista de dezenas, entre o gigante papa-formigas e o grande tubarão-branco. Por 30 euros, o "adoptante" recebe um certificado e uma fotografia do animal; por 60 euros, a organização inclui no pacote uma versão do animal em boneco, o que é um solução perfeita para os mais renitentes em entrar neste novo mundo.

Hannah Schardt, Exclusivo PÚBLICO//The Washington Post

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