Uma delicada salamandra

Distribuicao geográfica da salamandra-lusitanica

Texto de Alfredo Mendes: No Diário de Notícias

Anfíbios. No Parque Biológico de Vila Nova de Gaia, a investigadora da Universidade do Porto Raquel Ribeiro descobriu a salamandra-lusitânica, espécie apenas existente no Norte de Portugal, Galiza e Astúrias e que, segundo o director do parque, Nuno Oliveira, se encontra em declínio acentuado
Espécie é emblemática da fauna portuguesa
Dentro do projecto de doutoramento sobre anfíbios e répteis da nossa fauna autóctone, a investigadora Raquel Ribeiro, da Universidade do Porto, descobriu no Parque Biológico de Vila Nova de Gaia a salamandra-lusitânica, espécie endémica do Norte de Portugal, Galiza e Astúrias. De acordo com o director do parque, Nuno Oliveira, o animal encontra-se em "declínio acentuado".
Raquel Ribeiro, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Genética da Universidade do Porto, localizou a larva numa mina de água do parque, ficando a saber-se, disse Nuno Oliveira, que há procriação.
Precisou que os dados de Janeiro de 2006 do Instituto de Conservação da Natureza apontam para a existência de 10 mil salamandras-lusitânicas no nosso país. Nas minas da serra de Santa Justa, em Valongo, aprofundam-se os estudos sobre este anfíbio no seu habitat.
O director do parque referiu, ainda, ser a salamandra-lusitânica uma espécie em diminuição e com "bastante valor". Daí admitir o reforço da população com salamandras-lusitânicas capturadas num local onde abundem. Com esta descoberta, revelou, aumenta para sete o número de espécies de anfíbios selvagens a viver no Parque Biológico de Gaia, actualmente com 122 espécies diferentes de vertebrados.Uma biodiversidade de assinalar porquanto aquela área se localiza quase em meio urbano.
A bióloga, que estuda a fragmentação do habitat, disse ao DN ter escolhido na Área Metropolitana do Porto "as ilhas de vegetação natural ainda não alteradas pela acção humana, incluindo os parques que são refúgios para os animais selvagens". Foi nesse trabalho de campo, acentuou Raquel Ribeiro, "que encontrámos uma larva correspondente aos girinos das rãs e dos sapos".
O facto de ter sido numa mina de água tem a ver com o habitat característico "da espécie emblemática da nossa fauna. Gosta de água cristalina, fresca e oxigenada. Existe no Norte do País e na Galiza e Astúrias, portanto, uma distribuição limitada", acrescentou a investigadora.
O Parque Biológico de Gaia, disse, "ficou contente com a descoberta, dado que o habitat "é favorável a espécies tão sensíveis como esta e que não estava inventariada". A bióloga afirmou ter visto uma larva, primeiro, e, depois, um adulto. Por isso, deduz, "a população estará estabilizada no parque".
No estudo em questão, "encontrámos na região do Porto bastantes exemplares. Porém, é difícil calcular a população deste anfíbio. Haverá milhares", supõe.
Confrontada com a eventual extinção da salamandra-lusitânica, Raquel Ribeiro não hesitou em afirmar: "Não está em extinção, mas a salamandra-lusitânica tem um estatuto de vulnerável em Portugal".
Precisa, depois, que o clima condiciona a distribuição da espécie, principalmente no que respeita às águas, à sua qualidade. Até porque, assinala, "os adultos não têm pulmões, respiram através da pele". A perda do habitat, acentuou a investigadora, representa o maior perigo. Ou seja, a floresta natural destruída e substituída por manchas de eucaliptos, para além de outras ameaças. Desmistificando velhas e relhas ideias, Raquel Ribeiro lembrou que as pessoas normalmente não gostam de anfíbios, considerando-os repugnantes e causadores de muita maligna. "Isso faz parte de um imaginário."
Ora, a salamandra-lusitânica "é inofensiva e de extremo valor ecológico, pois ao alimentar-se de invertebrados e de pequenos insectos contribui para se evitar algumas pragas".
Onde existem "são relativamente abundantes. Não se deve agarrar o animal pela cauda, senão perde-a. As salamandras-lusitânicas são divertidas, até se pode brincar com elas".
Se o clima ficar mais quente e seco, sublinha a bióloga, "seria terível para a espécie". Todavia, acrescenta, "não há razão para alarmes. A previsão é a de que o tempo, a norte do País, ficará mais quente, mas, igualmente, mais húmido".
Nos Estados Unidos proliferam várias espécies da mesma família, diz, por fim, a investigadora de anfíbios e de répteis, das 10 espécies de cobras existentes em Portugal e das duas víboras: a cornuda e a seoane.

Alerta para nova extinção de espécies em massa
PAULA CARMO

Coimbra. Cidade acolheu X congresso luso-espanhol dedicado a répteis e anfíbios
A extinção em massa de répteis e anfíbios, normalmente associada ao fenómeno do aquecimento global da Terra, está associada a outros factores e os 150 participantes do X Congresso Luso-Espanhol de Herpetologia, que ontem terminou em Coimbra, concluíram que o principal factor do extermínio destas espécies está relacionado com a destruição de habitat. De acordo com Maria José Castro, da comissão organizadora do encontro, "a desflorestação e a drenagem de áreas húmidas para a conquista de terras, bem como a alteração de zonas agrícolas em regime de monocultura" são alguns dos factores mais gravosos para a sobrevivência destas espécies, consideradas de excepcional importância para o equilíbrio dos ecossistemas. "Depois dos dinossauros esta será a sexta extinção de espécies em massa, temos todos de travar esse processo", alerta Maria José Castro.
"A espécie humana é quem mais está a contribuir para este desequilíbrio", alerta José Miguel Oliveira, outro biólogo também da comissão organizadora deste simpósio científico, levando por isso Maria José Castro a vaticinar que, para inverter esta realidade, em Portugal, "há que aumentar a literacia ambiental, trabalho de formação que deve começar logo ao nível do ensino pré-escolar". Que vantagens, então, na preservação destas espécies? Várias, assevera José Miguel Oliveira: "Eles controlam pragas agrícolas, as cobras, por exemplo, controlam as populações de roedores (estes sim, muito perigosos para a espécie humana) e fazem parte da cadeia alimentar de outras aves e mamíferos também eles fundamentais nos ecossistemas". Ou seja, com a extinção de répteis e anfíbios criar-se-ia um efeito 'dominó' de extinção de outras tantas espécies.

Breve história do Parque Biológico de Gaia

Chioglossa lusitanica

Kommentare

  1. Pois, estes estudos servem para alguma coisa, mais que não seja para alertar as autoridades da possibilidade de correrem algum perigo de extinção.

    Resta saber se estas autoridades os levam em conta no planeamento territorial e nas medidas necessárias para evitar uma eventual extinção, caso o problema se ponha, o que, segundo depreendi, ainda não é o caso...

    Beijoca!

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  2. minha irmã ia gostar dessa notícia. beijos, pedrita

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