A Ferradura

A Luísa Hoffbauer mandou-me, neste momento, esta história por @-mail. Como nao tinha a menor ideia do que havia de escrever no "ematejoca azul", pois penso que os meus temas nao sao de interesse geral, resolvi publicar esta história.

Era uma vez uma velha ferradura. Um senhor encontrou-a, levantou-a do chão e meteu-a no bolso do sobretudo. — É para dar sorte — disse o senhor de si para si, muito convencido do que dizia. Quando chegou a casa e a mulher foi pendurar o sobretudo no cabide é que foram elas. — Tens o sobretudo tão pesado, homem — intrigou-se ela. O senhor explicou o porquê: — É para dar sorte. — Se dá sorte, não sei — repontou a ela. — O que sei é que o peso da ferradura rompeu o bolso do sobretudo. Tirá-la de dentro do forro vai ser o cabo dos trabalhos. O senhor, pacientemente, recuperou a ferradura do sobretudo, que foi para coser, e pendurou-a num prego atrás da porta. — É para dar sorte. No dia seguinte, ia ele a entrar em casa com a mulher, e a porta não se abriu. Porque seria, porque não seria… Tiveram de entrar em casa, a muito
custo, por uma janela. A ferradura tinha caído e entalara-se em cunha na porta, impedindo-a de
abrir-se. — Estou a ver que a ferradura só dá trabalhos — comentou a mulher. O senhor não ligou e foi meter a ferradura numa gaveta: — É para dar sorte. Passado tempo, a mulher veio mostrar-lhe umas camisas todas manchadas: — Puseste a maldita da ferradura na gaveta, encheu-se de ferrugem e deu cabo destas camisas. As melhores que tinhas… Então o senhor aborreceu-se. Estava desiludido com a ferradura, que só o metera em trabalhos. — Vou
desfazer-me do raio da ferradura. Para dar sorte… — e atirou-a pela janela. Por pouca sorte, a ferradura foi bater no capot de um automóvel que ia a passar. Pior seria se tivesse acertado em alguma cabeça. Mesmo assim amolgou o automóvel. Veio o automobilista pedir explicações:
— Quem é o animal que anda a atirar os sapatos para o meio da rua? O senhor que achara a ferradura teve de pedir muitas desculpas e pagar uma indemnização, para que o caso ficasse por ali. E para que a história acabasse aqui.

António Torrado

História do dia

Kommentare

  1. a contra-superstição... contra a superstição ;-)

    AntwortenLöschen
  2. Não há regra sem excepção! Pobre ferradura... António Torrado tem umas histórias óptimas.

    AntwortenLöschen

Kommentar veröffentlichen

Beliebte Posts aus diesem Blog

pensamento inacabado

Guardador dos restos do Templo de Poseidon